Podemos brincar com o sorriso emoldurando o rosto, até lhe podemos acrescentar alguma ironia, no entanto não poderemos esconder o que dentro de nós acontece, porque os olhos nos atraiçoam, e a nossa face diz tudo o que não queremos que se saiba.
Podemos até lançar foguetes deixando-os estalejar no espaço e, até corrermos apanhando as canas, mas na verdade só nos enganamos, é um fogo de artificio mundano, Mesmo quando usamos o ritmo da música e o ondular do corpo em participado maneio, não apagamos a tristeza, nem o medo ou angústia do tempo que corre sem que nada aconteça. Na realidade não conseguimos afastar, nem quebrar, o silêncio da nossa casa vazia.
Nem todas as respostas são fáceis, mas algumas estão escritas há muito dentro de nós. Daí, que seja importante, saber formular as perguntas para saber as verdadeiras respostas.
Ouvimos com frequência que temos de mudar, mas nem sempre sabemos, o quê e por quê? Talvez precisemos primeiro de nos consciencializarmos dessa necessidade. Uma coisa é certa nem sempre resulta mudar de lugar, mais importante do que isso, será mudar por dentro.
DC
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
MUDAR DE LUGAR
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Foto. Diamantino Carvalho,
Parque da Cidade do Porto
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
O QUE ARDE CURA
Os tecidos ardiam alimentando o fogo da lareira, desapareciam com eles as memórias, os cheiros, os significados. Nada existia que valesse a pena guardar, já não havia razões para existirem como lembrança, ou manter vivo o que nem como opção servia.
Tantas vezes ao abrir as gavetas, ou os armários que carregamos ao longo da vida, nos deparamos com “peças de roupa” cheias de estórias e nem sempre bem agradáveis.
A gravata, o casaco, o vestido, a camisa, o relógio, o colar, são objectos que trazem agarrados várias vivências e muitas delas boas, mas na hora da escolha, quando procuramos, sempre deparamos com aquelas que menos gostamos, ficamos de olhos vidrados e temporariamente perdidos ao fundo da gaveta.
Diz-se por aí, que devemos deitar fora, ou dar, as roupas que não usamos que é sinal de que afastamos os pensamentos negativos, confiando que o futuro nos irá trazer novas experiências e satisfará de novo os nosso desejos.
A pensarmos assim, talvez dar tenha o inconveniente de voltarmos a encontrar, ou ver nos outros o que recusamos seja vivido. Daí que o fogo lindo que na lareira arde, leva com ele a impossibilidade de que se repitam algumas das memórias desagradáveis, e que as boas não precisem de um elemento de referência, para serem reavivadas.
DC
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
6º NEGATIVOS
Ainda mal acordado, ouço na sala o telefone a tocar. Atendo e ouço uma voz amiga, perguntando-me: Vais caminhar, como de costume? E, sem esperar resposta, diz-me: cuidado, hoje estão seis negativos! Sem perceber muito bem o que ouvia, mal saído da cama, questionei: Estás preocupada...como sabes? Do outro lado sai a gargalhada, no meio da qual ouço a explicação: Então ontem - 14 de Dezembro de 2014 - o Porto não ficou a 6 pontos do Benfica?
Longe estava eu de relacionar tal coisa e, de imediato, pensei na outra do advogado, comentador desportivo num canal televisivo, que dizia: Então vocês já sabem que a Estrada Porto – Lisboa, a A1, passou a ser A5, gozando com a derrota copiosa que o Benfica tinha tido perante o FC Porto. Estas duas piadas futeboleiras fizeram-me lembrar aquela frase muito antiga do tempo de Salazar “Fado Futebol e Fátima”, como armas do fascismo para subverter a mente do povo português.
Se os governantes bem “pensantes” deste país soubessem aproveitar esta criatividade do povo português, muito mais o país evoluiria. Não teríamos somente um Saramago, um Fernando Pessoa, um Damásio, e um ou outro engenheiro na NASA, mas certamente um país em franco progresso, com trabalhadores criativos e profissionais de primeira, ou seja, esses que governam resumem os problemas políticos a falta de capacidade do povo, dizendo que os portugueses têm de trabalhar mais, dando-os como madraços, que não cumprem, fogem ao fisco, e até põem em causa a sua competência, substituem a educação e valores por estas diatribes. Como se o povo não percebesse que quem gasta acima das suas possibilidades são os madraços banqueiros, e quem foge ao fisco com toda a facilidade são os grandes capitalistas. Não quero também escamotear, mas se o povo não se deixasse enrolar e ir em futebóis, e usasse a força das suas “claques” para lutar contra o desemprego, os salários miseráveis, os roubos nas reformas, e por um ensino de qualidade, em lugar da defesa dos interesses clubísticos, talvez neste momento tivéssemos um outro governo, uma outra qualidade de vida, um desporto com maior número de praticantes, com uma rivalidade sadia, como outrora, em que se rematava o final dos jogos com uma sandes de polvo frito, um “caneco” e umas quantas piadas marotas, sem alimentar quezílias ou destruir amizades.
DC
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
OLHAR MAIS LONGE
Ficam olhando na distância o cais das partidas, sonhando quantas léguas no mar das suas vidas em comum, irão navegar. O amor que os une é maior que as dificuldades, ou tristezas que possam surgir. Eles apontam juntos o horizonte que desejam, e nem o frio da negação, que lhes apontam, os pode conter na decisão de serem. Vivem o seu projecto, desenham-lhe todos os contornos, pintam-no nas cores do seu desejo e partem na convicção da sua realização. Assim compõem o puzzle das milhares de decisões, desilusões, alegrias e cansaço que não impedirão, mesmo sendo diferentes, de se encostem pedaço a pedaço e se constituam numa imagem única final de construção do amor e suas vidas. O tal amor com tropeços, dias maus e incertos, mas também com serenidade, prazer, alegria, trazidos pela convicção de que serão capazes de vogar nas águas que avistam com os mesmo olhos, elaborando e concretizando aquilo que outrora fora só um sonho de ambos.
A criança, que está para nascer, será a imagem visível do puzzle que querem completo.
DC
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Foto:Diamantino Carvalho
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Não se quer, acontece
Não se quer, acontece, as memórias aparecem mesmo quando não nos esforçamos por elas. De forma traiçoeira, pé ante pé, nos vão surgindo, misturadas com as questões quotidianas, uma fruta que se escolhe, uma regueifa com manteiga, um perfume que nos entra pelo nariz, um tossir, uma voz, e tudo se altera, o cérebro começa a trabalhar, tudo o que parecia controlado se desmorona. É como uma ressaca depois de uma bebedeira, deixa-nos um mau gosto na boca, neste caso no corpo e no nosso saudável bem estar. Volta-se a morrer por dentro, sentindo e revivendo novamente, Nega-se o evidente, esconde-se debaixo de um sorriso, toda a angústia que nos possui. Este ciclo se repete até que um dia o rastro se perca definitivamente, pelo menos as suas referências mais latentes, para dar lugar a um entendimento, que se torna o comum, no dizer das pessoas, O luto foi feito e afinal com razão ou sem ela “os lobos uivam e a caravana passa” e tudo fica bem. Até lá... o melhor é ir ao circo e ver os palhaços que sempre nos alegram, mesmo quando também eles sentem a tristeza.
DC
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Foto. Diamantino Carvalho
BOAS FESTAS
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Design de imagem:Diamantino Carvalho
domingo, 7 de dezembro de 2014
MÃOS DE MÃE
Mãos de mãe de trabalho duro, de pele áspera, marcadas pelas muitas horas, lavando roupa no tanque, passajando, engomando, cozinhando, limpando e mantendo a casa asseada, as refeições sempre a horas, tudo para manter os filhos e marido, asseados e capazes para trabalhar para o sustento da casa.
Mãe, "doméstica" de profissão, em tempos que não tinham quaisquer direitos. mas que trabalhavam de igual modo de sol a sol.
Mãos de mãe e de exemplo de povo, que sempre foram as mães deste país, naquele outro tempo, e que se espera as mães de hoje, sintam essa necessidade serem povo de igual modo.
Mãe que protegia pelo medo de perder os que amava, mas sentia a necessidade da conquista da liberdade para eles.
Mãos de mãe de caricia áspera, mas sempre desejada, porque senti-lo era quase um acontecimento, tal era a rudeza da vida, a falta de tempo e o excessivo cansaço. Mãe ternura no gesto de ajustar a roupa que vestíamos, de nos arrumar o cabelo, nos costurar das roupas na velha máquina Singer.
Mãe defendendo as crias, com a língua educada e afiada. Mãe que chorava as nossas lágrimas e por causa das nossas lágrimas.
Mãos de mãe que se perderam, se afastaram irremediavelmente à largos anos e que sempre nos deixam uma dor aguda quando lembrança. Existe sempre o vazio da tua ausência.
DC
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Foto: Diamantino Carvalho
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