sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O SILÊNCIO E O TEMPO

 

O silêncio abraça-me o peito,
sufoca-me o pensamento.

A data celebra um nascimento
de alguém que já não reconheço,
e acorda-me para as misérias que não esqueço,
verdades que não me escapam,
sonhos que não se realizam ...

Na família, incompleta,
faltam os afagos dos ausentes
e de outros presentes que não os libertam.
Foram-se pela noite.

Um novo dia nasce,
com ele o outro tempo, mais ontem.
Tempo mais rápido, mais lento...
depende de quem vive o tempo
como preenche o tempo.

No tempo em que o amor existe, cresce, se alimenta...
o tempo... não faz parte do tempo.

dc

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Se os outros dizem melhor



Se outros dizem melhor por que não usar seu dizer?

""“Um momento de felicidade.Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?” (Noites brancas, pág.1083 )

Pois eu equiparo o amor com a felicidade. Quem pode ser feliz sem nunca ter amado? Quem pode ser feliz sem nunca ter experimentado esse sentimento genuíno? Quem possui força o suficiente para afirmar que a felicidade encontra-se nas efemeridades da vida, quando o Amor, esse bem durável que nos confere verdadeira estabilidade, independe de toda materialidade do mundo?"" -

Extraído do texto de Vanessa Rossi :
O amor que confundem os loucos e os sábios;
Amor é sempre amor em qualquer tempo ou circunstância.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Um chapéu à janela

A janela aberta é o sinal da tua partida. O chapéu pousado no parapeito, deixa a dúvida quanto ao teu regresso.
Sento-me olhando a água que reflecte o azul do céu, tento libertar-me, dos pensamentos obscuros, procuro a serenidade, Agarro-me aos sonhos, aos projectos, tento um fio condutor, para entender as razões do medo, que levam às decisões drásticas. Quero crer que nada é definitivo, um dia chegarás, e ao tocares no meu rosto somente sentirás os anos que se perderam.


dc

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

não foi ela escolheu


Nas ruas se perdia,
nas ruas seu corpo vendia.
o caminho, hoje seu
não foi ela escolheu.
Cedo violada,
empurrada para a rua
por alguém, que a fizera sua.
Daí nasceu o nada
em que se transformou.
um corpo que não sente,
uma mente ausente
numa vida naufragada
na esquina da madrugada.

dc

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

DIVAGAÇÕES


Poderia pensar que ele se tinha esquecido de lhe escrever, não era verdade, todos os dias lhe escrevia, só que não publicava, ficava tudo guardado nos recônditos da memória. Convencera-se que ela não entenderia se ele publicasse, isto é, se ela se desse ao trabalho de ler. Ela não gostava de fazer ou falar de projectos, para ele, na maioria dos casos, eram o tema dos seus rascunhos, alguns dos quais não foram sequer equacionados entre si. Ele não queria vazios, esquemas furados, pretendia algo mais de que uma entrega de encomenda com hora marcada. Amor tem projectos declarados.

A Casa do Lago ainda não tinha posto de lado, nem a viagem às ilhas, nem muitas outros sonhos e vontades, que por vezes conversavam. Continuava empenhado em ler e aprender, mesmo que o tempo fosse cada vez mais curto, usava isso como meio de se ausentar do “nós”. É mais fácil viver a vida dos outros nas estórias que os escritores inventam, afagando os nossos espíritos com mais ideias, vontade de sonhar, e com a vantagem de apurar raciocínios; de algum modo aprendendo efectivamente a ler e a escrever.
Há muita gente que pensa saber escrever, ler e interpretar textos, ele não pensava assim; quanto mais lesse mais aprenderia. Tinha a consciência, de que há uns predestinados que nada precisam para o fazer, e uns outros, como ele, que precisam de muita leitura e muito trabalho para conseguirem transportar para a folha os seus pensamentos.

Ela não sabia, mas ele continuava a passear diariamente, mas só esporadicamente o fazia junto ao mar. No entanto embora ela já não o acompanhasse, ele vivia tudo como se ela estivesse ali ao seu lado, fazendo-lhe companhia. Numa das últimas vezes em que foi para a marginal, junto ao rio, começou a falar sem reparar que ela já não estava ali; ficara com a sensação de que a vira baixar-se para fotografar as gaivotas e de repente desaparecera. Seria mais uma imagem fantasma criada pelo pensamento.

Não podia passar uma esponja sobre que fora dito, sempre pensara o amor como prioritário. Conservava ainda alguns elementos de referência que marcaram a distância e a partida, não de forma obcecada, mas fazia-o simplesmente para se lembrar que há marcas que não saem com uma simples lavagem da pele.

Ele sabia, que havia quem ajuizasse, como ela, pensando que distribuía o seu amor por becos e ruelas, mas na realidade, somente procurava juntar os diversos cacos de muitas estórias de sonhos perdidos e tempos roubados, fazia-o escrevendo, ou mantendo os rascunhos na memória, como uma espécie de catarse para encontrar outro rumo, e quem sabe, vir a concluir o puzzle duma de uma estória verdadeira.

DC



sábado, 14 de fevereiro de 2015

Namorar é bom e eu gosto...


Gosto das conversas intermináveis, dos beijos à média luz no vão de escada, namorando de noite até à madrugada.
Oferecer flores apanhadas do caminho, dos lugares mais improváveis, com cores suaves e cheiros de natureza a condizer com a tua beleza.
Gosto de namorar na mesa do café, mãos dadas sobre o tampo, brincando com os dedos que se beijam de vez em quando. Atravessar o espaço, num dançar de tango, para te abraçar e beijar tua boca de morango.
Gosto de ir restaurante, não no dia marcado, mas de surpresa, sem nostalgia só procurando um sabor inesperado e continuar namorando.
Gosto de ver teus olhos brilhantes, quando caminhamos abraçados junto ao rio, olhando extasiados os horizontes distantes.
Namorar é bom, mesmo quando a vida é difícil e o tempo é curto, tira a nossa alma do luto. Namorar tem cheiros, tem beijos, abraços e desejos, momentos de paixão, loucura, outros de cheios de ternura.
Até na angustiante espera, namorar é bom tem o encanto da primavera.
Não quero saber, se é dia de Valentim, mas gosto de namorar assim.

DC


E quase lá...



Quase lá, dizia eu, na verdade as minhas palavras se esbarram na incompetência para dizer do que sinto, não tenho a riqueza da linguagem dos poetas, não encontro a sonoridade adequada, nem consigo escrever as frases que melhor expliquem em imagens metafóricas o amor.

Pensando bem, para quê complicar, se o amor deve ser um sentimento tão claro, tão perceptível quando existe? Para quê as frases bonitas ou a descrição metafórica, para algo que à partida tem de ser simples, mesmo sabendo dos emaranhados laços e confusão de sentimentos que brotam de nós quando o amor acontece. Não será melhor dizer AMO.TE, olhando nos teus olhos deixando as ondas sonoras voarem para os teus ouvidos, os lábios tremendo, o calor ruborizando as faces, o estômago se agitando, o ar quase faltando e um desejo evidente de vontade de te aconchegar nos meus braços e te enlouquecer de carícias. Eu sei que os poetas, os artistas em geral, são criativos, dão fulgor ao que sentem, mas não somos todos capazes, nem artistas... e que diabo, muitos sabem o que sentem e são terra a terra no seu dizer.

Para quê inventar, se para mim é tudo tão claro, mesmo quando cafajeste ou até mais agreste, sou sempre aquele que te quer e te pensa mulher. Aquele que quer dividir contigo o espaço e o tempo, os filhos desejados, as viagens a qualquer lado, o amanhecer sempre esperado e o amor derramado no leito da tua vida. É assim que penso dever ser, mesmo agora, com o dia a nascer, já penso em ti mulher, haja o que houver será para sempre... o amor que a gente quiser. Será que me ouves? Será que me lês e percebes?