Contrariando o ditado popular que diz “há sempre um testo para uma panela”, sempre escolheu com critério adequado. Não cozinhava para qualquer
alguém, o seu gosto gourmet exigia uma escolha criteriosa. Era tão exigente
nisso como nos utensílios, nos produtos e a sua qualidade, nas medidas certas
da receita, na confecção amorosa e cuidada. Enfeitava a preceito o local de
degustação, de modo harmonioso e sedutor. As suas mãos mexiam-se com
delicadeza, ou firmeza conforme as exigências e usava os dedos em gesto
atrevido, para experimentar num toque subtil a doçura e a espessura da massa. Na
boca fazia pausa com os alimentos para deles extrair todas as nuances e
sabores, movimentando língua entre o palato e os dentes, deixando-se envolver no
ambiente de aromas da degustação cuidada, enquanto saboreava o delicioso néctar
das melhores colheitas entre um sorriso de aconchego e um piscar de olho. Apimentava
quanto possível, deixava-se ir na envolvência do momento, e banqueteava-se nas
delícias afrodisíacas da receita. Sem se interrogar se tudo saíra perfeito, a
resposta emocional do outro, era suficiente. Sabia cozinhar os seus excessos,
para fazer a catarse das incertezas e dar azo à oportunidade de viver momentos
únicos.
dc