Cheguei e passeei-me pela
beira rio, depois sentei-me e fiquei silenciosamente, observando os praticantes
de exercício físico de fim de semana e de todos os dias, os passeantes, a sós,
de mão dada, ou lado a lado conversando, e os que simplesmente, como eu,
sentados, eram companheiros de partilha daquelas imagens, que se sucediam como
um filme aos nossos olhos. Quanto a mim, fui seduzido pelas crianças na sua
algazarra alegre, brinquei com eles nos baloiços, pesquei à cana, voei com as gaivotas,
naveguei com os pequenos barcos de recreio, vibrei com a brisa que vinha do
mar, banhei-me de sol e alonguei-me no horizonte que me trazia a outra margem
fervilhando de movimento e cor. Uma certa leveza se foi apoderando de mim,
fazendo-me esquecer das máscaras incómodas, o medo que ainda se sente, nos
olhos escondidos nas olheiras profundas, nos desvios de trajectória ao cruzar
dos caminhos. Fui para onde o pensamento me quis levar e quase me esqueci, que
o tempo passava e tinha de regressar. O espanto da situação deixa-nos aturdidos, não sabemos se vivemos, ou se sonhamos, temporariamente
ficamos fora do chão e uma paz interior se instala e um prazer estranho nos faz
sorrir e caminhar de regresso, ao velho mundo que habitamos, com energia
renovada.
dc