quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não se quer, acontece




Não se quer, acontece, as memórias aparecem mesmo quando não nos esforçamos por elas. De forma traiçoeira, pé ante pé, nos vão surgindo, misturadas com as questões quotidianas, uma fruta que se escolhe, uma regueifa com manteiga, um perfume que nos entra pelo nariz, um tossir, uma voz, e tudo se altera, o cérebro começa a trabalhar, tudo o que parecia controlado se desmorona. É como uma ressaca depois de uma bebedeira, deixa-nos um mau gosto na boca, neste caso no corpo e no nosso saudável bem estar. Volta-se a morrer por dentro, sentindo e revivendo novamente, Nega-se o evidente, esconde-se debaixo de um sorriso, toda a angústia que nos possui. Este ciclo se repete até que um dia o rastro se perca definitivamente, pelo menos as suas referências mais latentes, para dar lugar a um entendimento, que se torna o comum, no dizer das pessoas, O luto foi feito e afinal com razão ou sem ela “os lobos uivam e a caravana passa” e tudo fica bem. Até lá... o melhor é ir ao circo e ver os palhaços que sempre nos alegram, mesmo quando também eles sentem a tristeza.

DC

BOAS FESTAS


domingo, 7 de dezembro de 2014

MÃOS DE MÃE



Mãos de mãe de trabalho duro, de pele áspera, marcadas pelas muitas horas, lavando roupa no tanque, passajando, engomando, cozinhando, limpando e mantendo a casa asseada, as refeições sempre a horas, tudo para manter os filhos e marido, asseados e capazes para trabalhar para o sustento da casa.

Mãe, "doméstica" de profissão, em tempos que não tinham quaisquer direitos. mas que trabalhavam de igual modo de sol a sol.

Mãos de mãe e de exemplo de povo, que sempre foram as mães deste país, naquele outro tempo, e que se espera as mães de hoje, sintam essa necessidade serem povo de igual modo.

Mãe que protegia pelo medo de perder os que amava, mas sentia a necessidade da conquista da liberdade para eles.

Mãos de mãe de caricia áspera, mas sempre desejada, porque senti-lo era quase um acontecimento, tal era a rudeza da vida, a falta de tempo e o excessivo cansaço. Mãe ternura no gesto de ajustar a roupa que vestíamos, de nos arrumar o cabelo, nos costurar das roupas na velha máquina Singer.

Mãe defendendo as crias, com a língua educada e afiada. Mãe que chorava as nossas lágrimas e por causa das nossas lágrimas.

Mãos de mãe que se perderam, se afastaram irremediavelmente à largos anos e que sempre nos deixam uma dor aguda quando lembrança. Existe sempre o vazio da tua ausência.

DC

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Falar de IMAGEM

Montagem sobre uma imagem de alguns enquadramentos que teriam sido possíveis captar
Deixo-me levar pelas imagens, sem fazer escolhas quanto ao tema. Prefiro-as esteticamente ricas, sejam a cores, ou a preto e branco, sejam de pessoas, de animais, da natureza, de objectos, de pormenores. Podem ser fotografias, ou imagens de imagens de pinturas, desenhos, ilustrações, gravuras, esculturas, ou outras formas de expressão e conteúdos que as preenchem. Importante é que sejam suficientemente perturbadoras, que se façam sentir ser vistas, que nos seduzam, sugestionem, mexam com o pensamento seja qual for o ângulo, gosto artístico, ou diferentes significados que lhe atribui quem as produz.
A imagem enriquece quem a produz e quem dela usufrui, ninguém fica a perder, elas são as tais mil palavras de comunicação, que esbarram no nosso olhar e não nos deixam indiferentes.
Admiro todos aqueles que publicam, ou produzem diariamente obras que nos enriquecem, trazendo até nós um mundo infindável de momentos de vida, assuma ela a forma que assuma. Captam com o seu olhar observador para além do comum, recortam, revelam, enquadram, modificam proporções, escolhem a melhor luz, o tipo de cor e servem de bandeja, aquilo que os sensibiliza sem despudor, e tentam fazer-nos ver a vida por outro ângulo.
Todos sabemos que as imagens fora do seu contexto real, perdem ou ganham outra dimensão, seja ela redutora, ou pelo contrário, extrapole demasiado o que se vê. Não é raro que algumas imagens tentem formatar esteticamente, ou culturalmente a mente das pessoas, cabe a quem vê e analisa a capacidade de avaliar o contexto. De qualquer modo nelas existe sempre algo para aprender, tenham elas a intenção que tiverem e serão sempre um apelo de análise e inteligência, agregando um prazer especial ao vê-las.

Esta será por ventura, uma razão válida para passear por alguns links da internet, e usufruir esse espectáculo de comunicação, que nos transporta para mundos tão diversos.

DC
Alteração de tonalidade

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

CONVERSAR E SORRIR



O sorriso brincava-lhe nos olhos, enquanto manca que manca, atravessávamos o jardim ainda vestido de verde brilhante e com sol despontando ao longe na saída. Os risos sucediam-se no desenrolar da conversa sobre os medos com os quais ele ia brincando. Da operação restava a cicatriz, incómoda para o seu visual, mas nada que o tempo não atenuasse ou até fizesse desaparecer e, por agora, já que se localizava na parte inferior da perna, as botas tapavam. Restava a impressão que a própria cicatrização traz consigo, e aquele manca que manca, com o medo, muito feminino, que o corte ainda avermelhado se abrisse.
As conversas nascem e morrem, na voracidade do tempo, e muitos outros temas foram acontecendo até ao inicio da sessão da tarde. Um filme que decorre nas paisagens deslumbrantes da Carolina do Norte na década de 1920, “Serena” de seu título, mas com conteúdo pesado e pouco sereno. Paixões exacerbadas, ambição, amores reais e acontecimentos fatais, resumindo afinal o filme que se dizia de amor, era uma tragédia. Valeu por ter servido de catalisador de novos temas de conversa, fazendo esquecer o manca que manca, e como pretexto para um “chá” de final de tarde que se resumiu numas meias de leite e mais conversa.
A tarde se fez noite, Cada um seguiu seu caminho, Talvez outras tardes possam acontecer, mitigando os dias menos bons, porque afinal é bom, estar com quem gostamos de estar.

DC

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PARTIR e VOAR



Perco-me no dia,
nas conjecturas do que foi,
ou seria,
Deixo-me ir no seu embalar,
e perco o meu tempo,
se nada há para salvar.
Somente sei que partir,
tem muito de perda,
mas muito mais de encontrar,
objectivos a perseguir
e a necessidade de voar.

DC

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

TEXTOS ROUBADOS

 

Resolvi fazer uma montagem de textos de diversos autores, uns conhecidos outros anónimos, e ligá-los num texto único sobre o amor. São textos colados, alguns plagiados em parte, outros ligeiramente alterados. Valeu pelo exercício e por saber que há tantas pessoas que os usam em diferentes contextos, como se fossem de sua autoria.

Peço desculpa aos autores e espero que não me levem a mal, mas foi por uma boa causa.


"Não queria que fosses como os livros que enganam pela capa, mas que me surpreendesses pelo conteúdo, Tu sabes que a beleza só importa nos primeiros minutos, depois tem de se dar algo mais, a simplicidade é um tesouro para a alma. Não quero sejas perfeita porque se o fosses não serias real.
Eu sei que é importante para ti dizeres, ou escreveres, porque se não sufocas, até porque silêncio é um texto fácil de ser lido de forma errada, mas queria antes que me demonstrasses o teu amor, em vez de o gritares. Aquele amor mesmo, maduro, bonito, real, sereno, de verdade que não é montanha-russa, não é perseguição, não é telefone desligado na cara, não é duma noite, não é de espera. Um amor de chegada, de encontro, de dia e noite, de dormir de conchinha. Um amor que ao acordar faz um carinho de bom dia. Um amor de ajuda, de mãos dadas, conforto, apoio. E saco cheio, também. Porque de vez em quando o amor enche o saco. Tem rotina, tem manhã, tarde, noite, tem defeito, tem chatice, tem tempestade. Mas o céu sempre limpa. Porque o amor é puro como o azul do céu. Não se ama uma pessoa porque essa pessoa te dá o que tu precisa. Ama-se porque ela nos oferece sentimentos que nunca se imaginaram precisar. E tu sabes como eu penso sobre isso, se não me amam como mereço declara-me em “desobediência afectiva”, separo-me e nego-me a seguir; um bom amor é reciproco.
Às vezes é preciso bater com a cabeça na porta várias vezes...para se dar conta de que não é a porta que está no lugar errado mas sim nós. E isso eu não quero que aconteça."

Alguns dos autores são: Caio F. Abreu, Clarissa Correia, F. Montenegro, Igor Cury, Walter Riso e eu próprio.