sexta-feira, 18 de setembro de 2015

a CARTA



Gostava de ter coragem para te escrever, uma carta, daquelas que se escrevem em papel especial e que cheiram a enamoramento. Escrever com letras redondas, de traços incertos, espessuras diferentes, Cada palavra com o seu significado colado a expressão do seu desenho, às emoções nesse acto de realizar escrita. Gostava que assim fosse, marcada, legível, identificada com o sentir de quem escreve, deixando claro o ADN da origem. Mas perdi o jeito de escrever, de me revelar, selando o meu dizer com a expressão viva, quase arte, das letras da escrita. Aquele jeito de escrever com vocabulário escorreito, entre as intenções e os grafismos das letras trazendo coladas as emoções.

Uma carta, que quando olhasses a visses como tua e minha, Que quando a abrisses tivesse o meu cheiro, o meu gostar, Que quando a lesses, te sentisses como cumprindo um ritual delicado, envolvente, com pausas, saboreando cada palavra, cada frase, sempre de encontro ao encantamento do significado, da preocupação cuidada do desenho das letras, agitando teu peito de fervorosa alegria e emoção descontrolada da empolgante novidade, e concluindo, até que enfim, escreveu.

Sinto a necessidade e quero escrever, mas retraio-me num jogo de ping pong entre o querer e a inércia e o medo de não sermos definitivamente.


dc


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PARA SEMPRE



E se eu me declarasse que era para sempre, mesmo sabendo que para sempre é uma eternidade difícil de conseguir.
E se eu dissesse, que queria que fosse para sempre, que procuraria suavizar os terrenos difíceis que surgem na caminhada, Que eu preciso que seja para sempre, como sempre quis que fosse.
Se dissesse, que gostaria dos anos surgindo sucessivamente, mantendo para sempre o mesmo fulgor, o nosso gostar evoluindo para que se mantivesse para sempre, esse sempre que é uma eternidade, mas seria tão bom ser para sempre.
Sempre penso, que para sempre é a delicia da conversa, das discussões normais com bonanças mais longas ou mais curtas, Que as delicias do leito são diferentes todos os dias e tudo isto para sempre.
No teatro dos dias, sempre juntos na solução das coisas que sempre perturbam, mas que temos a capacidade de mudar e evoluir para que não aconteçam sempre, Eu quero que sejamos, diferentes, caminhando em paralelo com as mesmas intenções, mas desiguais quanto baste, para que não sejamos a monotonia para sempre, Continuar a sentir sempre esse amor eternizado nessa palavra tão pesada de intenções que seria com todo o prazer PARA SEMPRE.
dc

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Assim...



....caminhei percorrendo todo o seu espaço, suave, delicadamente, por montes e vales, parando em todos os lugares, atento ao saboroso usufruto, aproveitando a paisagem e o sabor dos frutos maduros. bebi das suas fontes, saboreei, todos os seus aromas e descansei deitado sobre o seu chão, sem medo de reconhecer a sua força e seu poder de me seduzir.

Nada seria possível se não apreendesse os códigos de acesso, os segredos de cada porta, percebendo a cada momento, como divagar, ou permanecer, aceitando e vivenciando as diferenças morfológicas, de cada elevação, de cada baixio, de cada grito atravessando o espaço, de cada fraseado manso entre tempestade ou bonança.

Logo, logo, voltarei ao local, onde fui feliz.


dc

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Gato



Fixo, hipnoticamente, o meu olhar felino, apoio-me em leituras várias e penso na humana condição, no que agita os Homens e as suas fraquezas e pasmo em tanto corre, corre, que me deixa agoniado, no passar das horas. De tal modo me preocupo, que lhes cedo a maciez do meu pêlo para que nas horas de paragem possa desvanecer seu stress. Se não fosse a minha, já agora, condição, poderia levá-lo a perceber, que eu nas minhas sete vidas, arrisco mais por prazer, do que pela necessidade de fazer .
E nessa vida onde eles se movem, são menos independentes que eu próprio que me dou melhor com na evolução com cão, do que eles na evolução se dão uns com os outros. Por isso, cada vez mais gato, me reservo de considerar que precisam mais eles de mim do que eu deles, E neste meu ronronar de prazer, que a leitura onde evoluo me dá, agradeço a sua descoberta do fogo e sua iluminação, que muito me ajudam sem precisar de óculos para ver.

dc

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

NO DOBRAR DA ESQUINA





Sempre sonhei, dobrar uma esquina, às vezes pensando ser “super-homem”, deixando para trás, rapidamente o que já era.

Dobrar para deixar de ver o que me persegue, dobrar, para me livrar de ter o passado colado às costas. Tem vezes, que fico mesmo tão aborrecido, que me apetecia dobrar os sinais que nas ruas indicam aos peões e aos automobilistas as regras a cumprir, pois nem uns nem outros cumprem, Até aqueles das informações horárias, na paragem doa autocarros, para me entreter, para diminuir a fúria de tanta demora.

Dobrar da esquina, como se fosse o “Homem de borracha”, das estórias aos quadradinhos, adaptando -me ao ângulo de noventa graus, colocando a cabeça e os olhos salientes, para lá da esquina do meu corpo, espreitando primeiro, antes de dar o passo para o outro lado, como num esconde, esconde, no qual a única diversão é não ser surpreendido pela burrice humana.

Às vezes sabia bem dobrar a esquina da vida e encontrar a outra rua, aquela onde ainda existem sorrisos e que ainda nos faz pensar, que vale a pena viver e lutar. Aquela rua onde se caminha de cabeça erguida, olhando, olhos nos olhos aqueles que como nós são força da vida.



dc


domingo, 13 de setembro de 2015

Ele Ía Dançando



Ele ia dançando
Como Zorba, na rua
E ia pensando
Que vida era a sua

Ia trocando os passos
De braços abertos
Ia descobrindo
Seus caminhos incertos.

Dali não saia a razão
Do tanto perder
Desde agora homem
Ao seu nascer.

E continuava dançando
Atordoando a procura
Não queria saber
Temendo a loucura

Quando caiu exausto
No meio da rua
Ele descobriu
A verdade tão crua.

Todo o homem
É fruto da circunstância
Se deixa que o tomem
Morre pela ganância

E se procura o amor
Dando a pele
Acaba se perdendo
No sabor do fel.

Acabara-se a dança
A alegria e a esperança
No chão tombou
E não mais se levantou.

No chão se restou tombado
seu corpo se enrolou
e não mais pensou
ficou para sempre gelado.

dc





quinta-feira, 10 de setembro de 2015

IRONIA...talvez



Acre, doce e nem por isso,
tem os pensares da vida
e nos sorrisos, ou rebuliços,
encontram sua guarida.

Enquanto tudo dei,
por amor e prazer,
somente eu é que sei
o fiz por tanto querer.

A falta de esperança,
somente tem o tolo,
porque já diz o povo:
“quem espera sempre alcança”.

“Não há bela sem senão”
e dai o meu partir
não pode um coração
passar o tempo a carpir.

Fico-me por aqui
senhora que bens já tem,
agora que para si
sou um citado, Alguém.
dc