Cantarolando entre dentes, ia calcorreando o empedrado miúdo, que ia desaparecendo sob a sola das sandálias, Quase me apetecia descalçá-las, para sentir o chão na polpa dos pés, e a força dos dedos se firmando a cada passada, Poderia assim ligar-me à Terra e aproveitar o que me quisesse comunicar.
O sol estava presente em tudo, Na luz do chão que pisava, no torrar das paredes dos prédios e casas, na clareza das cores, nas plantas se exuberando, nas sombras irregulares dos muros que desenhavam perfis de uma cidade imaginária.
O sol de verão, luminoso, transmitia alegria e calor a todas as superfícies em que tocava, ajudado pela brisa suave que se deslocava de forma intermitente no ar.
Eu procurava não me perder no decurso dos pensamentos, Olhava as casas grandes semi-abandonadas, com paredes de pedra e alpendres, imaginando o que poderia fazer para as recuperar e adaptar às necessidades actuais, sem desvirtuar os princípios que as tornavam sedutoras aos meus olhos, nem eliminar as flores que se penduravam nos muros que as envolviam. E sonhava, sonhava vivê-las por dentro.
Os carros passavam longe. O ruído do trabalhar dos seus motores, surgia aos ouvidos como uma rajada de vento, que se diluía no ar. Enquanto isso, tudo observava como se fosse a primeira vez que por ali andava, Não tinha pressa de chegar ao destino, o pouco tempo que teria para realizar os objectivos à muito traçados, traziam inquietação, em contra-ponto com a necessidade de gozar aquele momento.
Quando descia uma das ruas que me aproximavam de casa, Vi-a, Trazia um carrinho de mão daqueles usados para transporte dos sacos de compras, com uma caixa de cartão, e nela pousada uma flor vermelha de Jardineira, talvez destinada ao seu grande amor, Vestida com um casaco escuro, os cabelos totalmente brancos diziam da idade, O sorriso no seu rosto marcado pelo tempo, falava serenidade e prazer de desfrutar o dia. A idade parecia ter perdido o peso, certamente voava, como eu, para outros sonhos. Fiquei feliz ao vê-la, Deu-me a certeza de que valia a pena viver a alegria do dia.
Os jardins da urbanização e os edifícios mutuamente se evidenciavam, As flores vermelhas fizeram-me parar e captar a sua imagem para dentro do cartão digital, Mais à frente novamente os girassóis, se atravessavam no meu caminho e sentia-os mais do que nunca, como o meu mundo de gente pequena. Tudo me tocava por dentro.
Algo de nostálgico e sublime se passara neste meu viajar andarilho e me fizera sentir humanamente recuperável.
A vida é muito mais do que problemas económicos, zangas, guerras, ou bens materiais, é uma saudável paz de espírito, com nós próprios.
DC
sábado, 17 de agosto de 2013
O SOL ESTAVA PRESENTE
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Foto 1 e 2: Diamantino Carvalho
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
O GIRAsSOL TÃO ENGRAÇADO
O girassol, dizem, assim chamado, porque a sua flor acompanha o sol na sua trajectória do nascente ao poente, Para os Incas, talvez pela sua cor amarelo dourado, o girassol era uma referência ao deus Sol, que veneravam através de representações da sua imagem, moldadas em ouro. É também uma flor que simboliza, sucesso e fertilidade.
Bem o digam as abelhas e pássaros, que os procuram atraídos pela sua cor e para se banquetearem como alimento, assim como nós. Os girassóis, com as suas sementes com sabor a noz, são um nutriente, que traz grandes de benefícios ao corpo humano, sem falar da satisfação espiritual, com que a suas cores quentes e formato, nos prodigalizam.
Outrora, os girassóis eram um sonho dourado aos olhos das crianças, eles efectivamente “procuravam o sol”, e se encantavam com as posturas que assumiam, Umas vezes altivos, outras vergados ao seu próprio peso, como nós pessoas perante o cansaço dos amores perdidos ou não encontrados.
Não será um “mal-me-quer”,ou um "bem-me-quer”, com que nós procurávamos fazer o jogo de amor, mas poderia cumprir a mesma missão, no entanto gosto mais dele como é, enriquecendo com a sua forma, dimensão, cor, luz e o espaço azul onde se recorta.
DC
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Foto:Diamantino Carvalho
terça-feira, 13 de agosto de 2013
SACRED SPIRIT...
... falam
Não entendo a sua língua, sinto somente a brisa que sopra de dentro da terra de forma mágica, respondendo ao evocar os seus espíritos.
Minhas mãos e meu corpo se agitam ao sabor dos sons que vão chegando, Um arrepio saudável acompanha o voar da águia que ao longe procura a sua presa.
Voo no desenho mental das quedas de água, de o “Último Moicano”, Na estória do soldado isolado no meio de nenhures, e esboço a sua união com os índios, num mundo livre, onde se vai aculturando o soldado do exército americano, no “Dança com Lobos”, relembro a traços largos “O soldado Azul” e o massacre dos índios, Por fim as Montanhas Rochosas cenário de muitos filmes medíocres, que nos falavam da conquista do inóspito território índio e que procuro apagar. Tudo regressa à memória, enquanto a música se entranha.
Deixo-me ir sem tentar ler as vozes, que sob a música, evocam os conteúdos distantes do meu conhecimento - Tatanka :Ly o lay Ale loya – procuro sentir essa ligação dos homens à terra, aos deuses e aos espíritos que povoam na sua linguagem.
Fecho os olhos, sinto-me dentro do Tipi, irmanado com os meus pares, partilhando o cachimbo sagrado ao redor da fogueira, nesse transe de abertura aos espíritos, que me falam de outras histórias não alcançáveis por todos os seres humanos...
DC
ASSIM SE DEIXOU SONHAR
Deixou-se correr
com os pontapés da natureza
a limar o seu corpo
da sua rudeza
e assim renascer.
Sofreu dores e descaminhos
sem saber por onde ia
mas em si reconhecia
sua pele
se transformava
Os dedos já não magoava
aos que nela tocavam.
Com a doçura dos seus olhos
sentia que a apreciavam.
Deixou-se ficar
no desfazer da onda
na areia da praia
sem pressa de partir
pois alguém poderia
nela pegar
e com sua mão a acariciar
num outro moldar.
Assim se deixou sonhar
DC
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Foto: Internet
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
ENTRE PALAVRAS..
...se perde a realidade, fica o vazio, como entre cada minúsculo pedaço de matéria.
Qual a dimensão do vazio, será que tem o mesmo volume da matéria, ou será maior?
O negro absorve a luz, não é cor, Razão para tanto gostarmos da luz do sol e encontramos nela um prazer especial, o brilho do arco-íris.
Talvez como a luz descobre os objectos, ocorre a necessidade dos episódios de riso se instalarem entre cada frase, entre cada escuta, como que procurando preencher vazios, ou anular o constrangimento dos silêncios prolongados pelas incertezas.
Dividimos a atenção entre o lá e o cá, numa escuta intermitente a duas vozes, onde se mistura o que se diz, com aquilo que vamos ouvindo e vendo nos outros, que à nossa frente se vão mexendo e falando.
Incapazes, deixamo-nos converter ao papel dos mosquitos, encadeados pela luz do rectângulo, em vez de vivenciarmos cada segundo, cada abraço, cada momento de encontro possível.
DC
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Foto: Diamantino Carvalho
sábado, 10 de agosto de 2013
Como seria bom poder viajar...
...numa estrada sem fim, com um horizonte sucessivamente renovado, sem rota, saboreando cada bocado de vida que se proporcionasse, enriquecendo de saberes, de sabores, e múltiplos prazeres. Sem destino, e muitos lugares para andarilhar. Aproveitar os momentos de caminhar sentindo as águas da chuva escorrendo pelo corpo e cortina sobre o rosto modificando o olhar, O calor morenando a pele, a brisa do fim de tarde, O pôr do sol, O amor acompanhando os fins de tarde, numa esplanada perdida algures num qualquer lugar.
Mas vão-nos cortando as asas, para que nos resignemos à missão de trabalhar e fiquemos pelas imagens das paisagens, das casas, dos mares, dos campos, das cidades, dos diferentes povos que desfilam perante os olhos, através do cinema, televisão, ou internet, Como é injusta, a sociedade em que vivemos.
Nada é definitivo só a morte, tudo mais é transitório e dura o que tem de durar não mais do que isso. Gostamos e desgostamos, começamos e recomeçamos, fazemos e desfazemos, sempre ambicionando mais e melhor, como é natural, por isso só nos resta lutar, sem desfalecimentos para obter a tal sociedade mais humana mais igualitária, que nos aproxime da realização dos nossos sonhos.
DC
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Foto:Diamantino Carvalho-Rio Douro
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
RESPIRO-TE na noite ACORDADO
De que sei eu falar se vivo a arengar
que espero momento a momento
a brisa da voz que desapareceu no ar
deixando-me sem alento.
A alma já se dilui na negra noite da dúvida
indo fundo penetrando na terra da incerteza
entre razões e emoções na mente a vogar
no turbilhão da tristeza
Na memória dos dedos o orvalho
da pele de veludo do teu corpo
ficam esperando o reencontro.
Respiro-te na noite acordado
até ao chegar da madrugada
Esperando-te flor em amor transformado
DC
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Foto: Diamantino Carvalho
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