Dei duas bofetadas no tempo,
desacreditei-o e tirei-lhe as memórias.
Descomprometi-o das minhas histórias.
Tirei-lhe a razão de ser
quando lhe troquei as voltas.
Coloquei-o nos antípodas,
passei-o por vários quadrantes,
deixei-o perdido em lugares distantes.
Assim, nem partida nem chegada,
Nem passado, ou futuro
e muito menos presente,
somente, um muro indiferente.
DC
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
DUAS BOFETADAS NO TEMPO
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domingo, 9 de fevereiro de 2014
Sinto falta de um caldo quente de atenção
O frio, chuva e humidade pairam no ar, o vento fustiga as janelas fortemente, são três horas da madrugada de quarta-feira, A intempérie acordou-me, preocupado acorro à sala, as gotas acumulam-se no tecto e a qualquer momento a água pode entrar. Este inverno tem sido um inferno, enquanto o problema do telhado não se resolver as noites vão ser sempre assim.
A gripe tomou-me, dores de garganta, tosse, expectoração, antibiótico, e comprimidos para as dores de cabeça, tudo contribui para que se prolongue o inferno. Os pesadelos são muitos, o sono intermitente, por vezes, o acordar corresponde a dez minutos de tossiqueira, depois, novamente sono e pesadelos...
Sinto a falta de um beijo na face, dum abraço apertado, de um caldo quente de atenção, a falta o mimo que nestas alturas é tão importante como os medicamentos. O tempo passa, sentimo-nos frágeis como crianças nos seus primeiros passos.
As horas decorrem, e o dia surge e nada melhora em relação à noite, o cenário de inferno se mantém. Nos momentos de maior lucidez, me assalta à mente, a necessidade de ir à rua ver sol, ouvir os pássaros, ver, imagine-se, gente, pessoas, isso pessoas, como se estivéssemos afastados do mundo há séculos.
Os amigos escasseiam, perdidos na sua própria vida, vão-se afastando com os múltiplos afazeres, até ao dia, que se divorciam, ou tem problemas que precisam da nossa ajuda. Aí aparecem novamente chorosos, ou desgastados, pedindo um ombro onde encostar a cabeça, e um ouvido que ouça as sua lamentações que nesse momento são as mais importantes do mundo. Na verdade a amizade é um pouco isso, se fosse uma namorada ou esposa não aturávamos tanto.
Já te disse? Acho que sim, Faltas-me tu, que preenchias os meus sonhos e a minha realidade, Não estás aqui para mim, não pelo teu corpo, mas pela tua ternura, a tua voz, aquele tal abraço, o aconchego da roupa. A tua presença, no meu chá em que me lembras do comprimido a tomar. Como quando estiveste doente, e eu desesperava com medo que algo de mau acontecesse, e te mimava. Foram vinte e quatro horas de dúvidas e dores, Começou com dor, que se foi amenizado com doses de amor, carícias múltiplas, mimos e atenção sem par nos “entretantos” e depois o relaxar com o novo dia nascendo na alegria.
Hoje não será assim, ao levantar-me encontrarei o vazio, o silêncio, e não haverá remédio, que me tire os pesadelos e a inconstância que me perturba.
Nestes momentos menos bons, tudo nos ocorre e a ausência de quem amamos dói mais.
DC
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domingo, 2 de fevereiro de 2014
A TARDE...
.... se aproxima do fim. O frio, o vento e os aguaceiros, gelam os ossos. As nuvens carregadas aceleravam o surgir da noite. Saí de casa sem destino, e nem a intempérie me atemorizava. Fugia do silêncio, queria perder referências, encontrar espaço para meditar, fugir das rotinas, libertar-me. Peguei na minha pequena máquina fotográfica e saí.
Na maioria das vezes quando se caminha, com as preocupações carregando o espírito, os olhos procuram o chão, ou se de cabeça levantada, olhamos sem ver, não reparando nem no que nos rodeia, nem do passar do tempo. Fazendo isso, não meditamos nem encontramos respostas. Tentei contrariar isso, levantei a cabeça, e enquanto caminhava, olhando para tudo o que ia surgindo, Ruas, casas, carros, pessoas e as árvores que delimitavam alguns espaços, sem me fixar em nada, deixando tudo fluir. De repente, sem saber como, nem porquê, as árvores despidas com os seus galhos, de diversas formas e dimensões, como que braços e dedos apontando o céu, me iam prendendo o olhar. Fui fotografando, tentando deixar-me levar pelo que via, fixando as suas imagens.
A meditação acontecera, a minha mente perdera-se naquelas formas estranhas que se iam desenhando aos meus olhos, e enquanto focava, enquadrava e disparava, o tempo decorria, a mente ia ficando limpa e a serenidade voltava.
Algumas horas depois regressando ao ponto de partida, a sensação calma mantinha-se, certamente, por hoje, a noite seria mais serena, sem pesadelos, e as preocupações não me iriam perseguir.
DC
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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
PORQUE SERÁ?
Será que fui eu que me perdi
No labirinto das emoções?
Será que não soube descobrir em ti
Quanto sofrias debaixo do silêncio...
ou
Será que me fui eu que me distraí
E me deixei levar pelas ilusões?
ou
Será que só eu me penitencio
Pelo que não fiz?
Será que me distraí, que não vi, não fiz
ou...
Terias tu espelhos, paredes silêncios
Para que eu olhasse e não visse...
ou
não te sentisse?
Será?
Sempre será uma interrogação
E agora não podemos obter uma conclusão.
O tempo foi passando dia após dia.
Agora mais um mês se finda,
Sem saber ainda a razão
das distracções, do que se perdeu,
do que se não fez, e o que criou a ilusão.
Porque será?
DC
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
O FRIO CORRÓI..
Chove e faz frio
Faz frio e chove
Chove e dói
O frio corrói
Gela os ossos
Gela a alma
Como destroços
Frios sem vida.
Na tarde calma
Nós dois perdidos
Entre a chuva
Vento e dor
Procurando
Sem encontrar
Motivo ou solução
Para degelar
A dor no coração.
Será a chuva
O frio e o vento
Razão para tanto
Sofrimento?
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sábado, 25 de janeiro de 2014
Na cor do fim de tarde
Talvez não leias o que escrevo, por isso não saberás das memórias que tenho, nem saberás que ainda guardo como fotografias as imagens, dos muitos momentos em que éramos, isso, éramos dois ligados à máquina dos nossos sentimentos, como doentes, em estado vegetativo...
...sentados no banco, em pleno estio, num fim de tarde de Sábado, com a ponte desenhada no azul do céu, ficamos olhando o rio como uma linha de horizonte divide as duas cidades. O sol foi descendo até pousar lentamente sobre o mar, como se nesse devagar ele nos quisesse prolongar o prazer que sentíamos. Tu aninhada no meu abraço, que te protegia da brisa que ia ficando mais agreste, e a conversa se desenrolando na cor do fim de tarde...
É inexplicável, até indecente, pensar que há coisas mais importantes, que possam destruir esse sentimentos. Um momento que fica entranhado em nós, como aquelas nódoas que caem na roupa e não saem mais, como ficaram o perfume do teu corpo e o seu calor, as carícias, os dedos na pele, e a pele dos meus dedos, na pele dos teus dedos, e aquela dor fininha que atravessa o corpo a que se chama saudade.
Quando na rua, ela passou a meu lado, o seu perfume despertou-me... a imagem surgiu, e atrás dela as memórias, lembrando como foi bom o acontecer, naquela tarde de Sábado, em que um certo magnetismo, parou todos os relógios e nos deixou ser eternos.
DC
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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Eu sereno, daqui os observo
Olho através da janela,
Olho vejo a gente que corre,
Olho, eu sereno sem me preocupar,
Olho e vejo, nos seus olhos a loucura,
De gente que sem pensar,
Corre, corre sem parar.
Eu sereno, daqui os observo
Deixando-os correr,
Eles pensam-me animal e servo,
E eu vejo-os, trabalhando até morrer.
Olho confuso com tanta agitação,
Fico contente pelas minhas sete vidas,
E por ser animal de estimação.
DC
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