terça-feira, 8 de abril de 2014

Doendo, na pele...



.... vivem os silêncios, Eles nos esmagam no correr dos dias, pela noite, são fantasmas que escorrem pelas paredes. Não é um silêncio qualquer, é um silêncio que se vai construindo dentro de nós, Silêncio das ausências dos que amamos e que partiram definitivamente, silêncio dos que ainda vivos, se vão afastando, ou afastamos por esta ou aquela razão. Silêncios, e silêncios, alguns tão perturbadores. Há amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho, da politica, enfim de vários lugares e quadrantes da nossa vida pessoal e social, que desapareceram com as suas vidas para outros lugares, para outras vivências e nos deixam o seu silêncio, um silêncio ensurdecedor. E ficamos com todos os silêncios em dentro de nós. O nosso silêncio que nem sempre é desagradável e o silêncio em que nos deixam.
Quanto mais os anos passam, mais os silêncios se entranham, fazendo crescer muros...E a nossa sociedade chamada de “moderna”, dá um empurrão forte para nos silenciar.

DC

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Feias gaivotas...Belas gaivotas



Passei, elas digladiavam-se, tentando arrancar o mais depressa possível o que se encontrava dentro do recipiente...Faziam um barulho ensurdecedor. Longe do mar, onde na costa escasseia o peixe, elas entram cada vez mais terra dentro à procura de alimento. Colocam-se no topo dos edifícios como outrora nos mastros dos barcos, ou nas redondezas dos portos de mar, observando e ralhando em piares constantes, como se reclamassem, ou estivessem numa discussão acesa, Fazem-me ficar de cabelos em pé quando investem em voo picado em direcção ao solo como se fôssemos também alimento. Têm tanto de bonitas como arreliadoras. Terei de confessar, que elas me fazem temer o pior, quando enchem os areais às centenas parecendo um agrupamento militar pronto a atacar, Como me fazem ficar fascinado com os seus voos sobre o mar, Aí tornam-se belas desenhando arabescos contra o céu e planando contra o vento como se estivessem paradas. Não raras vezes ao observá-las, quase entro em estado zen, deixando-me transportar para outros mundos, fazendo viagens à descoberta como um qualquer navegador, ou pirata de outrora.
Feias gaivotas...Belas gaivotas duas faces da mesma moeda.


DC

Nota: Estas aves são porquinhas sempre que defecam em cima de nós...ou dos nossos carros o que nos dá vontade de lhes torcer o pescoço. Elas existem por alguma razão, talvez devêssemos pensar, se qualquer dia com a fome que grassa por aí, elas não serão um novo peru a saber a lagosta.

terça-feira, 1 de abril de 2014

AO MUDAR DE MANSINHO




A nova hora entrou de mansinho, estava eu apreciando imagens fotográficas, de repente olho e vejo as horas no relógio no monitor do computador, Uma hora adiantado em relação meu relógio, Fiquei confuso, pensei: “O relógio avariou...?”, Afinal, foi somente a mudança da hora.
Há tanta coisa que acontece de mansinho, inesperadamente, Como o silêncio da noite que entrou também de mansinho sem eu aperceber o quanto dominava o meu espaço. De mansinho como as imagens que ia observando atentamente, apreciando seu critério e qualidade, Eram imagens de quem fotografa de mansinho, apalpando terreno, temendo o juízo que possam fazer sobre elas, no entanto demonstravam, o gozo, o prazer de captar para dentro da máquina aquilo que seus olhos e toda a sua sensibilidade pretendiam reter de modo menos efémero. Fotografar é uma prazer, que de mansinho se vai acumulando dentro de nós que nos torna quase frenéticos e potenciais viciados, quando com uma câmara fotografia na mão. Nada escapa ao escrutínio do nosso olhar, tentando sempre, de modo diferente, dar um ponto de vista inovador das coisas comuns, com que todos os dias nos deparamos. Ainda há quem pense que a fotografia não é uma arte e disso faça discussão, Eu por mim diria que será talvez a oitava arte, mas quem sou eu....

DC

quinta-feira, 27 de março de 2014

A CASA AMARELA



Na Casa Amarela estava contido o sonho, o projecto. Simples na arquitectura, na dimensão intimista, nela a esperança de que voariam, Mesmo não sendo verde, seria um atravessar da ponte para outros destinos. Valeria a pena carregar a mochila e trazer os tarecos, para a encher de gente de risos e gargalhadas, Seria a proximidade desejada, o retorno à origem.


A
Casa Amarela foi ocupada, antes que o vento da novidade chegasse. Não se sabe por quem, mas de certeza alguém, que sem saber lhes roubou as gargalhadas e o projecto, ficando com o verde do jardim, com mais esperança que o amarelo das paredes da casa que os iluminou.

Hoje pensam, se seria a
Casa Amarela suficiente, para que o projecto se realizasse.

Não seria de certeza uma casa amarela que se perdera, que os impediria atravessar as pontes e chegarem ao porto seguro, em que se diziam recolher. Ter um gato, um lugar para dormir, um sol ao acordar e um mundo de coisas a descobrir, não depende de uma casa amarela, por muito que nos dê calor, Sempre poderiam pintar com o amarelo do seu contentamento, se o desejássem, uma outra casa qualquer, Ou comprar uma tenda amarela de cinco quartos...talvez até uma simples barraca pintada à cor, qualquer solução seria suficiente, para que o gato ronronasse, a criança brincasse e a lua nela entrasse iluminando de amarelo as quentes noites. Isto é, "se eles quisessem" nem o peso das mochilas, nem dos tarecos, atrasariam o atravessar das pontes, nem o amarelo seria cor suficiente que os impedisse de realizarem o seu projecto.

Não conseguir uma
Casa Amarela, pode ser um aviso à navegação sem bússola, a descoberta de uma outra realidade, a necessidade de encontrar mais tempo, mais cores, e descobrir-nos a nós próprios. Uma vida não se decide por um objecto e sua cor.


DC

SET.2013


COMO FOLHA CAÍDA...




Nos outros olhares
Só vejo teu olhar.


Nas vozes que passam
Só a tua voz escuto.


Entre todos os cheiros
Distingo o teu cheiro.


Nos corpos circulando
E é o teu corpo que vejo.


Nos pássaros que voam
É tua liberdade que desejo.


Em tudo o que acontece
És tu que permanece.


Como folha caída,
Envelhecida pelo Outono,
Adubando a terra
Neste inverno da vida.

Sou árvore ao abandono,
À espera da Primavera.

DC


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quarta-feira, 26 de março de 2014

O que esse BEIJO SIGNIFICA




É tanta a saudade
do nosso beijo.

Esse beijo sinfonia
Que nossos corpos
enlouquecia,
Beijo que se prolongava
Contrariando o tempo
Que escasseava.
Nos beijávamos
A toda a hora,
Como amávamos.
Sem cansaço
Nem demora
No seio de um abraço.
Entre o beijo de partida,
e beijo da chegada,
Tu beijavas eu beijava
Beijos com calor,
ou ternura.
Beijo da nossa loucura
Beijos de nosso amor.

O que esse beijo significa...

DC

segunda-feira, 24 de março de 2014

Os teus objectos


 
Não os guardo como troféus, ou suporte de memória, nem como objectos perdidos, Quero querer, que o acaso os deixou, largados inadvertidamente. São objectos com o valor das emoções e de pertença, que fazem no seu existir, a tua existência.
São objectos com vida, com cheiros, de diferentes texturas e cores, que contam diferentes histórias, como livros sem palavras, Histórias recriadas e todos os dias saboreadas conforme o momento e o tempo que agora decorre.

DC