sábado, 19 de abril de 2014

Um beijo desperdiçado



Um beijo desperdiçado
Foi o que pensaste...

Talvez a boca beijada
Onde deixaste teu beijo,
Não fosse a boca amada
Nem razão do teu desejo.
No entanto no teu carpir
De amor mal entendido,
Desfizeste todo o sentido,
Mataste um amor não começado
E o ainda inacabado.

DC

segunda-feira, 14 de abril de 2014

OuViNDo PiAnO

 

Tenho-te para todo o sempre retida na memória, não pelos sons da música que nunca me tocaste, mas nas palavras escondidas debaixo das tuas escolhas.
Teus olhos têm o vidro escuro da timidez, são desenhados pelas notas de música da tua alma, em cada momento que teus dedos fluem na superfície lisa das teclas do teu piano, Momento único, onde expões teus sentimentos. Voas para destinos que não os meus, procurando ir mais longe nos teus saberes, sentimentos e aventuras, sentindo as diferenças do viver do teu passado, com um presente que se desenha como futuro.


Imagino-te olhando os arranha-céus, as ruas largas da cidade onde te instalas temporariamente e pensas se vale apena trocar a simplicidade que te está na pele, pela riqueza conquistada num mundo poderoso, de mãos sujas de sangue inocente. Nunca te senti, ou pressenti, como linha demarcando o horizonte, no entanto sinto-te na vivência do êxito.


Sei-me com mais noites e dias, para além de ti, As minhas mãos não têm a delicadeza de quem afaga o marfim preto e branco, elas têm a dureza das chagas obtidas na força bruta da construção dos dias. Os teus saberes foram ganhos fazendo um caminho ilustrado e iluminado por mentes ricas, e pelas letras pousadas nas superficies brancas das leituras, Enquanto isso os meus resultam da experiência feita vida, da presença da música a que não reconheço a pauta, das leituras vulgares enriquecidas com o passar dos tempos, das vozes das gentes transversais à oralidade dos tempos.

Na longínqua distância, sem o cheiro do teu corpo, sem sentir o teu respirar sobre meus lábios, sem ouvir sequer a tua voz, fico pensando no absurdo que nos afasta, e nos dois mundos diferentes com que temos de nos sujeitar, deixando acontecer como o eco que nos responde sem ter corpo.

DC

domingo, 13 de abril de 2014

FUI AO CONCERTO..


O público vai-se sentando, a sala vai ficando cada vez mais composta, Os músicos ensaiam os instrumentos, naquele fraseado desorganizado dos múltiplos sons que deles saem, quase parece uma conversa, em que todos falam e ninguém ouve. É todo um ruído que dá para observar e pensar como se constrói e se vive a música. O público e músicos, afinal ambientam-se e preparam-se para o concerto. É um ambiente único. De repente o silêncio, O chefe de orquestra entra..e todos os músicos se levantam, Palmas e silêncio... começa o encanto.
A música tem uma linguagem sofisticada de comunicação. O cérebro entende a sua abstracção, e não se conseguem encontrar as palavras que descrevam, ou expliquem o que nós percebemos, ou sentimos, naquele jogo de notas musicais que nos fazem viajar mentalmente a diversos lugares, com diferentes paisagens e ambientes. Por vezes flutuamos, outras entramos bem terra dentro, outras ainda ficamos num limbo do qual nos custa sair.

Não sou um aficionado pelos concertos musicais, não, por que não goste da música, ou do ambiente, mas porque me disperso em relação ao importante, a escuta. Perco-me na leitura de cada instrumento e seu músico, fico fascinado pela forma como ele se envolve com a música e consegue tirar de um objecto morto, todos aqueles sons.
O meu olhar por vezes faz-me abstrair de tal modo, que só acordo para o conjunto da peça quando o maestro, faz entrar na composição os violinos ou a repercussão de forma intensa. De qualquer modo, mesmo assim, são muito mais os momentos em ouço a todos naquele jogo harmonioso e sedutor da orquestra, não sem que o pensamento de quando em vez traia a minha escuta e me faça pensar nos pormenores...”Como consegue o maestro dirigir a orquestra e levar aqueles, indivíduos todos através da batuta? Como é que ele consegue memorizar milhares de notas, para cada instrumento? Como é que músicos e maestro, mesmo com a pauta à frente conseguem manter na memória a vibração de cada nota e a forma como ela se entrelaça com as outras?”.
É claro que a música ao vivo trás uma qualidade de som mais pura e natural, não existe a correcção, tudo sai como tem de sair, com as afinações, o toque do maestro, a disposição com que cada um encara de diferentes formas o concerto, inclusive os que ouvem e só. Como uma boa colheita do melhor vinho, é única. É ali no concerto que a orquestra e todos os seus componentes são submetidos a julgamento pelo público, quanto ao objectivo e qualidade.

Assim me perco eu, ouvindo e observando, mas ainda mais motivado para chegar a casa e ligar o aparelho de som, e voltar a ouvir as mesmas músicas, Agora sentado no sofá de olhos fechados e deixando-me ir pelo universo que ela me vai transportado.

Uma coisa é certa, a partir de agora antes de ir a um concerto, vou
primeiro ouvir o reportório em casa, podendo observar sem me perder quanto à qualidade de execução do que ouço.

DC

>UM pPensamento depois de ter assistido ao concerto de celebração dos 500 anos do Foral de Matosinhos, na Casa da Música

terça-feira, 8 de abril de 2014

Doendo, na pele...



.... vivem os silêncios, Eles nos esmagam no correr dos dias, pela noite, são fantasmas que escorrem pelas paredes. Não é um silêncio qualquer, é um silêncio que se vai construindo dentro de nós, Silêncio das ausências dos que amamos e que partiram definitivamente, silêncio dos que ainda vivos, se vão afastando, ou afastamos por esta ou aquela razão. Silêncios, e silêncios, alguns tão perturbadores. Há amigos, familiares, vizinhos, colegas de trabalho, da politica, enfim de vários lugares e quadrantes da nossa vida pessoal e social, que desapareceram com as suas vidas para outros lugares, para outras vivências e nos deixam o seu silêncio, um silêncio ensurdecedor. E ficamos com todos os silêncios em dentro de nós. O nosso silêncio que nem sempre é desagradável e o silêncio em que nos deixam.
Quanto mais os anos passam, mais os silêncios se entranham, fazendo crescer muros...E a nossa sociedade chamada de “moderna”, dá um empurrão forte para nos silenciar.

DC

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Feias gaivotas...Belas gaivotas



Passei, elas digladiavam-se, tentando arrancar o mais depressa possível o que se encontrava dentro do recipiente...Faziam um barulho ensurdecedor. Longe do mar, onde na costa escasseia o peixe, elas entram cada vez mais terra dentro à procura de alimento. Colocam-se no topo dos edifícios como outrora nos mastros dos barcos, ou nas redondezas dos portos de mar, observando e ralhando em piares constantes, como se reclamassem, ou estivessem numa discussão acesa, Fazem-me ficar de cabelos em pé quando investem em voo picado em direcção ao solo como se fôssemos também alimento. Têm tanto de bonitas como arreliadoras. Terei de confessar, que elas me fazem temer o pior, quando enchem os areais às centenas parecendo um agrupamento militar pronto a atacar, Como me fazem ficar fascinado com os seus voos sobre o mar, Aí tornam-se belas desenhando arabescos contra o céu e planando contra o vento como se estivessem paradas. Não raras vezes ao observá-las, quase entro em estado zen, deixando-me transportar para outros mundos, fazendo viagens à descoberta como um qualquer navegador, ou pirata de outrora.
Feias gaivotas...Belas gaivotas duas faces da mesma moeda.


DC

Nota: Estas aves são porquinhas sempre que defecam em cima de nós...ou dos nossos carros o que nos dá vontade de lhes torcer o pescoço. Elas existem por alguma razão, talvez devêssemos pensar, se qualquer dia com a fome que grassa por aí, elas não serão um novo peru a saber a lagosta.

terça-feira, 1 de abril de 2014

AO MUDAR DE MANSINHO




A nova hora entrou de mansinho, estava eu apreciando imagens fotográficas, de repente olho e vejo as horas no relógio no monitor do computador, Uma hora adiantado em relação meu relógio, Fiquei confuso, pensei: “O relógio avariou...?”, Afinal, foi somente a mudança da hora.
Há tanta coisa que acontece de mansinho, inesperadamente, Como o silêncio da noite que entrou também de mansinho sem eu aperceber o quanto dominava o meu espaço. De mansinho como as imagens que ia observando atentamente, apreciando seu critério e qualidade, Eram imagens de quem fotografa de mansinho, apalpando terreno, temendo o juízo que possam fazer sobre elas, no entanto demonstravam, o gozo, o prazer de captar para dentro da máquina aquilo que seus olhos e toda a sua sensibilidade pretendiam reter de modo menos efémero. Fotografar é uma prazer, que de mansinho se vai acumulando dentro de nós que nos torna quase frenéticos e potenciais viciados, quando com uma câmara fotografia na mão. Nada escapa ao escrutínio do nosso olhar, tentando sempre, de modo diferente, dar um ponto de vista inovador das coisas comuns, com que todos os dias nos deparamos. Ainda há quem pense que a fotografia não é uma arte e disso faça discussão, Eu por mim diria que será talvez a oitava arte, mas quem sou eu....

DC

quinta-feira, 27 de março de 2014

A CASA AMARELA



Na Casa Amarela estava contido o sonho, o projecto. Simples na arquitectura, na dimensão intimista, nela a esperança de que voariam, Mesmo não sendo verde, seria um atravessar da ponte para outros destinos. Valeria a pena carregar a mochila e trazer os tarecos, para a encher de gente de risos e gargalhadas, Seria a proximidade desejada, o retorno à origem.


A
Casa Amarela foi ocupada, antes que o vento da novidade chegasse. Não se sabe por quem, mas de certeza alguém, que sem saber lhes roubou as gargalhadas e o projecto, ficando com o verde do jardim, com mais esperança que o amarelo das paredes da casa que os iluminou.

Hoje pensam, se seria a
Casa Amarela suficiente, para que o projecto se realizasse.

Não seria de certeza uma casa amarela que se perdera, que os impediria atravessar as pontes e chegarem ao porto seguro, em que se diziam recolher. Ter um gato, um lugar para dormir, um sol ao acordar e um mundo de coisas a descobrir, não depende de uma casa amarela, por muito que nos dê calor, Sempre poderiam pintar com o amarelo do seu contentamento, se o desejássem, uma outra casa qualquer, Ou comprar uma tenda amarela de cinco quartos...talvez até uma simples barraca pintada à cor, qualquer solução seria suficiente, para que o gato ronronasse, a criança brincasse e a lua nela entrasse iluminando de amarelo as quentes noites. Isto é, "se eles quisessem" nem o peso das mochilas, nem dos tarecos, atrasariam o atravessar das pontes, nem o amarelo seria cor suficiente que os impedisse de realizarem o seu projecto.

Não conseguir uma
Casa Amarela, pode ser um aviso à navegação sem bússola, a descoberta de uma outra realidade, a necessidade de encontrar mais tempo, mais cores, e descobrir-nos a nós próprios. Uma vida não se decide por um objecto e sua cor.


DC

SET.2013