quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Mais além



As mãos apoderaram-se do meu rosto, enquanto seus lábios cálidos, maduros, pousavam nos meus, Sentia o calor do seu amor, o perfume de seu corpo, e os arrepios como poema escrito na sensibilidade da pele.

Os corpos se colam, o espaço entre eles é o desenho da forma, é a linha que limita o risco que no papel dá o contorno aos corpos, como a sombra a existência do ponto de luz, o volume organiza o espaço.

Somos nós no prazer, do reencontro, sem fugas, retidos no mesmo espaço onde nos apetece divagar, descobrindo o mais além, tão infinito, tão generoso, que nos permite a exaustão sucessiva, e a retoma ao ponto de partida, como ondas que se repetem na existência do mar. Todo o ar está cheio de nós, o que nos rodeia assume o brilho dos nossos olhos, Nós somos aquilo que sempre fomos, e, se alguns dias nos afastam no calendário, será no prazer de um tempo, que queremos nosso, que se fará a eternidade do que nos une.


dc

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

DE costas voltadas



Perdemo-nos nas minudências, nos jogos do poder, esquecemo-nos do que entendíamos ser, dois são mais do que a sua soma. Valorizamos o que não presta, e não aceitamos o que é da natureza da vida . Agarramo-nos cobardemente à superfície, das coisas para não entrarmos mais fundo nas emoções e na razão que nos levam à partilha, de sermos capazes de aceitar o outro invadindo o nosso próprio espaço temporal. Somos solidários, nas ruas e abrimos as portas aos outros, mas fechamo-nos a nós. Temos medo de correr ao lado pelo simples prazer de desfrutar, queremos sempre chegar em primeiro. Há quem troque uma corrida na estrada de conversas recheadas de risos e emoções no seio das gentes, pela obsessão de chegar primeiro, para ganhar a medalha que morre na vitrina, que é importante para auto estima, mas perdem a realidade de sentirem vivos.
São coisas da vida, temos o pássaro na mão, confiante alegre e de repente, procuramos assenhoramo-nos da sua liberdade e da sua natureza, mesmo sabendo que não o devemos fazer, e surpreendemo-nos quando morre, porque apertamos de mais os dedos para que não fugisse.


dc
...A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...
Martha Medeiros


sábado, 19 de setembro de 2015

Hoje. este sol


O sol entra pela janela enchendo a casa, é um sol claro brilhante, que atravessa a atmosfera, o céu límpido de Outono. O sol de Outono é mais único, quando as primeiras chuvas parecem aspirar todas as poeiras, como que se quisessem abrir as portas para ele passar e chega até nós, por vezes frio, no entanto rico na força que nos transmite, para superar o habitual sombrio inverno.

Hoje, este sol trouxe-me a saudade,

Este seria o “nosso” sol, idêntico ao que connosco se passeava, nas margens do rio, quando me visitavas, e do mesmo modo afastando tudo o que nos consumia, naqueles entretantos em que te ausentavas, Inicialmente tudo era um pouco frio, talvez pelas ausências que nos marcavam excessivamente, mas o reencontro fazia esquecer, de forma breve, tudo, e aproveitávamos o brilho de todos os elementos que nos faziam felizes, ultrapassando tudo e renovando para que não esmorecêssemos.

Hoje, este sol trouxe-me à realidade.

O “nosso” sol” trará sempre saudade, mas dificilmente o que sempre tivemos, Embora se diga que o sol nasce para todos, não nos ilumina todos os dias de igual modo, como o água do rio não passa duas vezes pela mesma margem.


dc

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

a CARTA



Gostava de ter coragem para te escrever, uma carta, daquelas que se escrevem em papel especial e que cheiram a enamoramento. Escrever com letras redondas, de traços incertos, espessuras diferentes, Cada palavra com o seu significado colado a expressão do seu desenho, às emoções nesse acto de realizar escrita. Gostava que assim fosse, marcada, legível, identificada com o sentir de quem escreve, deixando claro o ADN da origem. Mas perdi o jeito de escrever, de me revelar, selando o meu dizer com a expressão viva, quase arte, das letras da escrita. Aquele jeito de escrever com vocabulário escorreito, entre as intenções e os grafismos das letras trazendo coladas as emoções.

Uma carta, que quando olhasses a visses como tua e minha, Que quando a abrisses tivesse o meu cheiro, o meu gostar, Que quando a lesses, te sentisses como cumprindo um ritual delicado, envolvente, com pausas, saboreando cada palavra, cada frase, sempre de encontro ao encantamento do significado, da preocupação cuidada do desenho das letras, agitando teu peito de fervorosa alegria e emoção descontrolada da empolgante novidade, e concluindo, até que enfim, escreveu.

Sinto a necessidade e quero escrever, mas retraio-me num jogo de ping pong entre o querer e a inércia e o medo de não sermos definitivamente.


dc


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PARA SEMPRE



E se eu me declarasse que era para sempre, mesmo sabendo que para sempre é uma eternidade difícil de conseguir.
E se eu dissesse, que queria que fosse para sempre, que procuraria suavizar os terrenos difíceis que surgem na caminhada, Que eu preciso que seja para sempre, como sempre quis que fosse.
Se dissesse, que gostaria dos anos surgindo sucessivamente, mantendo para sempre o mesmo fulgor, o nosso gostar evoluindo para que se mantivesse para sempre, esse sempre que é uma eternidade, mas seria tão bom ser para sempre.
Sempre penso, que para sempre é a delicia da conversa, das discussões normais com bonanças mais longas ou mais curtas, Que as delicias do leito são diferentes todos os dias e tudo isto para sempre.
No teatro dos dias, sempre juntos na solução das coisas que sempre perturbam, mas que temos a capacidade de mudar e evoluir para que não aconteçam sempre, Eu quero que sejamos, diferentes, caminhando em paralelo com as mesmas intenções, mas desiguais quanto baste, para que não sejamos a monotonia para sempre, Continuar a sentir sempre esse amor eternizado nessa palavra tão pesada de intenções que seria com todo o prazer PARA SEMPRE.
dc

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Assim...



....caminhei percorrendo todo o seu espaço, suave, delicadamente, por montes e vales, parando em todos os lugares, atento ao saboroso usufruto, aproveitando a paisagem e o sabor dos frutos maduros. bebi das suas fontes, saboreei, todos os seus aromas e descansei deitado sobre o seu chão, sem medo de reconhecer a sua força e seu poder de me seduzir.

Nada seria possível se não apreendesse os códigos de acesso, os segredos de cada porta, percebendo a cada momento, como divagar, ou permanecer, aceitando e vivenciando as diferenças morfológicas, de cada elevação, de cada baixio, de cada grito atravessando o espaço, de cada fraseado manso entre tempestade ou bonança.

Logo, logo, voltarei ao local, onde fui feliz.


dc

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O Gato



Fixo, hipnoticamente, o meu olhar felino, apoio-me em leituras várias e penso na humana condição, no que agita os Homens e as suas fraquezas e pasmo em tanto corre, corre, que me deixa agoniado, no passar das horas. De tal modo me preocupo, que lhes cedo a maciez do meu pêlo para que nas horas de paragem possa desvanecer seu stress. Se não fosse a minha, já agora, condição, poderia levá-lo a perceber, que eu nas minhas sete vidas, arrisco mais por prazer, do que pela necessidade de fazer .
E nessa vida onde eles se movem, são menos independentes que eu próprio que me dou melhor com na evolução com cão, do que eles na evolução se dão uns com os outros. Por isso, cada vez mais gato, me reservo de considerar que precisam mais eles de mim do que eu deles, E neste meu ronronar de prazer, que a leitura onde evoluo me dá, agradeço a sua descoberta do fogo e sua iluminação, que muito me ajudam sem precisar de óculos para ver.

dc