Do confinamento entre lugares, passou-se ao confinamento de mentalidades e comportamentos.
Vejo-os circular tropeçando
na pressa de fugir ao respirar de outros. Zombies. Como se os olhos estivessem
presos por fios invisíveis de marioneta. Tiraram-lhe a face, deixaram-lhe os
olhos fundos como único lugar de identidade. Muçulmanos sem ser, vítima de
algozes disfarçados de bem feitores. Surripiaram-lhe a liberdade, apelando a um
bem maior que serve de metáfora para a morte por descodificar todos os dias. O
medo está instalado, a pressão exige obediência, submissão, aceitação da voz
única. O discurso repete-se, para que a mentira se torne a verdade, sem que
outras vozes se ouçam e o contraditório se revele. Vamos sendo colonizados por
opiniões daqueles que defendem outros interesses que não são os nossos.
Defendemos os que nos afectam e prejudicam, aceitamos os seus conceitos e
fazemos deles nossos. Crédulos alguns, denunciam, e apelam a algemas e mordaças
invisíveis, para aceitarmos até, que respirar é uma graça que eles fazem o
favor de conceder.
dc
“O
grande êxito do capitalismo neoliberal é governar-nos não contra a vontade, mas
graças a ela e através dela, convencendo-nos de que a situação em que estamos é
o resultado das nossas escolhas e decisões” Nora Merlín