sábado, 27 de abril de 2013

PINTAR CONTRA O SILÊNCIO



O espaço enorme e deserto da parede da sala era uma provocação. Era necessário quebrar o silêncio que ali se gerava, não o silêncio como ausência de som, mas o silêncio que se formava dentro de nós perante aquele vazio. Ele tinha de pintar algo que tivesse dimensão e que transmitisse uma ideia de vida. No branco das pranchas de platex escolhidas como suporte existia o mesmo silêncio. Havia necessidade de romper nos diferentes espaços o silêncio, falando com imagem e cor.

A parede existia cumprindo a sua função como limite de um espaço, sem comunicar. Algo teria de nascer como imagem, que fosse manifestação de vida, algo que teria de falar para que se quebrasse o silêncio, que fosse um convite às palavras conversadas, às divagações férteis, uma chamada ao conforto visual e espiritual. Por fora as pessoas estariam complementando a imagem

Sem pressas lentamente a tinta se foi depositando, sujando o espaço branco e progressivamente foram surgindo diferentes cores e imagens. A cada momento ele passeava os olhos pelos painéis e ia alterando repintando, procurando sempre ficar mais perto do que imaginara. Se o conseguiu, ou não, cabe aos outros avaliar, para ele, como sempre, a inquietação permanente de encontrar a forma de concretizar a ideia com que partiu e o acto de produzir era aquilo que lhe dava mais prazer.

DC

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ABRIL E "O AMOR SAUDÁVEL"



Nesta noite de Abril, não falarei de Revolução, mas de um sentimento importante em qualquer revolução. Não nas minhas palavras, porque elas não chegam próximo, nem exprimem suficientemente, mas nas de alguém muito sabe sobre o tema.

“ O amor saudável é um amor apoiado na dignidade humana, na convicção de que uma boa relação favorece o desenvolvimento do potencial humano e o fortalece. O amor saudável nasce de um sentimento prezado e vital que não se corrompe com facilidade. É fonte de alegria e de ternura, é desejo, admiração e companhia. Não é um amor perfeito, mas amor valorizado e ponderado, sem pretensões celestiais ou astrais. Um amor tão terreno como justo. Amor bem calculado, sem depreciações, apreciado por si só, próximo, precioso respeitado, mas não indestrutível.”

“ O amor saudável não é um amor completo e definido de uma vez por todas, trata-se antes de uma orientação que nos permite reinventar-nos junto da pessoa amada. É uma requintada união razão e emoção ao serviço de uma vida em comum pacifica.”


Walter Riso

terça-feira, 23 de abril de 2013

SAIR PARA FORA, CÁ DENTRO





Pisava a terra do caminho ladeado de pequenas flores amarelas com os seus pés muito verdes, sentindo o vento zurzir os seus ouvidos, enquanto o mar, ao seu lado, perdido no infinito horizonte, o acompanhava neste seu passear, neste seu buscar, como se de um parceiro de tertúlia, que não quisesse deixar só. Diferentes cheiros eram-lhe trazidos, todos eles distantes da cidade onde habitava e que o deixavam com saudade de tempos idos, onde campo e cidade quase se confundiam.

Era bom estar ali com a família revivendo, era bom estar ali vivendo a natureza rude que o afastava do angustiado viver citadino, com o seu corre-corre permanente, tropeçando em toda a gente em ruas lugares apinhados, em esperas, paragens de autocarros, tudo lugares que de tão públicos nos tornam, tão sós.

De vez em quando é necessário carregar as pilhas, pena é, que questões alheias à nossa vontade nos impeçam de pudermos, mais vezes, fugir para outras paragens, vivendo a calma de outros espaços mais verdes, mais mar mais terra.

DC


sábado, 20 de abril de 2013

Eu tenho uma flor que não é rosa...




Eu tenho uma flor que não é rosa, mas também tem espinhos. Rego-a com todo o cuidado, adubo-a com os melhores ingredientes, dou-lhe espaço e o sol que precisa, Dou-lhe tudo o que mais precisa, para possa crescer, para que fique mimosa e bela. No entanto, por vezes ao tocar-lhe, ou quando me aproximo demais, ela reage picando-me com os seus espinhos, como se tivesse medo de perder a sua liberdade, mesmo quando ela não está em causa. Sim, mas como saberá ela, se é uma flor?

Cuidar dela é tão importante, como o prazer que me dá com a sua presença. Ela se calhar não sabe o quanto a aprecio, É uma flor, só sente porque eu a cuido, ou quando me ausento, aí, ela reage à minha falta perdendo o seu vigor, como se fizesse um chamado, para que eu perceba, que às suas cores e sua beleza, faz falta o meu cuidar

A minha flor, tem cheiro, cor, pétalas macias, folhas harmoniosas que a protegem, e um pé elegante e firme, que a distingue das demais, daí o meu gostar. Quando a olho fico-me a pensar, como seria bom que ela me visse flor, a precisar do seu cuidar.

DC

quarta-feira, 17 de abril de 2013

AQUI DIGO EU: A MENTIRA VIRÁ SEMPRE AO DE CIMA


A mentira é como o azeite sempre virá ao de cima, e a pequena mentira é como aponta do rabo de um elefante, escondido no meio do mato, quando se puxa o rabo, já ela tem uma dimensão enorme. As omissões são as mentiras disfarçadas, de coisas que se evitam dizer para se evitar “ter chatices”, ou entrar em detalhes que possam ser desagradáveis (?).

E assim vai o mundo, entre verdades e mentiras, umas na vida privada, outras na política e social, e ainda outras que são as mentiras para connosco próprios sendo estas as mais graves, porque nos fechamos sem dizer o que pensamos, vendo como tudo se vai desenrolando à nossa volta sem tomar uma atitude. Tudo isto vai acontecendo no dia-à-dia, e todos nós cantando e rindo, como se nada fosse neste matagal que se chama Portugal.

Vem a propósito deste conversa toda, a análise de Eugénio Rosa, sobre “OS MITOS E AS MENTIRAS DA DIREITA NO ATAQUE `AO “ESTADO SOCIAL” (www.eugeniorosa.com)15/04/2013, onde desmonta através de dados oficiais as mentiras usadas pelos nossos governantes para nos irem aos bolsos e um outro de Ellen Brown, “O Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE), ou como a Goldman Sachs capturou a Europa” (http://resistir.info/europa/17_golpes_de_estado.html) . Este famoso MEE , não é mais do uma forma de por os contribuintes suportarem a austeridade e a salvar da crise dos bancos.  Nestes dois artigos poderemos apreciar quanto mentirosos são os nossos governantes, como alguns lacaios comentadores e jornalistas, que sabendo a verdade, a escondem através de uma informação confusa e prolifera de modo a que o “Zé Povo”, se deixe atemorizar e vá cedendo aos interesses maiores do capital.

Com tudo isto, todos acabamos aprendendo a mentir com grande sabedoria, engando-nos a nós próprios, ao fisco, aos amigos etc., etc., até tentando enganar a vida.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

DESLIGUEI, VIREI SEM ABRIGO




Desliguei, não continuei a falar, as palavras batiam na parede da indiferença. Saí para rua, o ar da noite fresco aclarou-me as ideias, e afastou o espectro negativo como terminara a conversa. A seu tempo tudo se resolve, quando tiver que acontecer, acontecerá(?). Sei que é determinismo a mais, mas é melhor pensar assim do que ficar preocupado. Não podemos fazer planos demais, ou acreditar, que todos cumprimos com o rigor suficiente, esperando que os outros se comportem de igual modo como nós. Em algum tempo também teremos falhado sem nos apercebermos. De “infalíveis está o inferno cheio”, “amanhã é um novo dia”, e por aí adiante. Os pensamentos vão acompanhando a passada, e o a brisa os vai levando tornando mais leve o peso da alma. “ Não vale a pena chorar o leite derramado”, dizem, como tal o melhor é seguir em frente e pensar que nada aconteceu, as coisas acontecem e nós vamos mudando um pouco, até que quando nos apercebemos já estamos do outro lado da vereda, e nem sabemos como saltamos. A situação financeira é grave e está em primeiro lugar nos problemas a resolver. Como tal, virarei sem abrigo e rapidamente tudo ficará mais fácil. Não há casa para manter, impostos para pagar, nem água, nem luz, as obrigações desaparecem como fumo e o prazer da leitura até se pode manter com os livros que abundam no meio dos lixos assim como os jornais e as revistas. Já nem falo em roupa, porque qualquer trapinho encontrado ao lado do contentor do lixo me ficará a matar. A comida também se esmolei-a. Os amigos passarão a ser outros. Os antigos deixarão de me reconhecer, e os novos estarão dentro do meu espectro económico e social. Fixe.
Tu não te preocupes comigo mulher deixo-te os papeis do divórcio assinados em cima da mesa, os filhos estão crescidos, já não precisam de mim e tu sempre terás a oportunidade de arranjar um parceiro mais capaz que te dê menos preocupação. Foi bom enquanto durou, agora vou-me, não quero discutir contigo. paga as dívidas ao estado, ajuda a pagar as dos bancos, e tem os impostos em dia para não te levarem a televisão, e a internet, eu prefiro o ar livre do portal de uma casa, onde adormeço todos os dias sem me consumir e com sonhos fáceis de apagar. Boa noite e até um dia destes.


DC

sábado, 13 de abril de 2013

Ideias da "MERDA"...

Morreu excêntrico socialite de Hong Kong que comprou a primeira sanita dourada


Há uns anos atrás, tive um patrão, que em certos dias, chegava à empresa de manhã, logo me mandava chamar, Quando entrava no seu gabinete dizia para me sentar em frente dele e agitado começava, “Pá tive uma ideia do caraças hoje de manhã...Ai sim, dizia eu, e então? Pá, estava eu na casa de banho a fazer a barba —ou outra coisa qualquer — e veio-me à ideia... assim descarregava ele a sua ideia. Do mesmo modo que comigo, fazia-o com outros funcionários. Como sempre acontece nas empresas, nas suas costas riamos as gargalhadas e dizíamos “o chefe tem as ideias na casa de banho, pode-se dizer que “são ideias de merda”. O que nem sempre era verdade, por vezes eram ideias ditadas pela preocupação de manter a empresa activa e os seus funcionários.

Tive um amigo que lia a maior parte dos livros, na casa de banho, e colocou uma estante com os ditos, mesmo em frente da sanita, dizia ele, “para não perder tempo a procurar um, antes de entrar"

Com o decorrer dos tempos fui-me apercebendo que muitas pessoas passam imenso tempo na casa de banho pensando “na morte da bezerra”, ou seja, fazem daquele local o espaço ideal de isolamento, para pensarem na vida em todas as suas variantes e vicissitudes. Não o escolhem acontece.

É naquele espaço que todos os dias, em especial logo pela manhã, muitos se ocupam das tarefas essenciais à sua higiene, ou ficam simplesmente sentados na sanita à espera que aconteça. Não, não é o que estão a pensar, Ali a mente trabalha a cem por cento tentando alinhar pensamentos, fazendo planos, dando azo a criatividade, preparando terreno para o que diariamente se lhes depara e em muitos casos para tomarem decisões com futuro, outras vezes lêem livros, jornais, revistas, pensam, sonham. E é também aqui que muitas vezes somos apanhados com “as calças na mão”, e sem saber o que fazer.

Todos nós já devemos ter reparado no tempo que as pessoas passam nas casas de banho, muitas delas quando saem trazem um rosto pensativo, como se estivessem na maior biblioteca, ou lugar de culto. Como diria escritor, “conversas de WC”, a sós consigo mesmos. Talvez tenha chegado o momento de deixar de criticar quem “perde” o seu tempo na casa de banho, não sabemos o quanto esse tempo está a ser usado a pensar em coisas positivas, não só para o próprio, mas também para os outros. Nem sempre são ideias de MERDA, no entanto se forem ficam no local em que devem estar e facilmente são descarregadas no autoclismo da vida. Além de mais para que conste MERDA, é tão normal como, ONG, PT, EDP, PM, PR, UE, ONU, EEUU, ou no pior PQP.

MERDA:
Movimento de Energia Renovada Da Alma

http://bairrodooriente.blogspot.pt/2010/02/morreu-o-homem-da-sanita-dourada.html