segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A tristeza nunca vem só..




"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria."
"A tristeza é um muro entre dois jardins."
Gibran , Khalil

A tristeza nunca vem só, vem acompanhada de horas irrecuperáveis, de sentimentos que magoam, de saudades, de incertezas, de insatisfação, de perda, de ausências, de benevolências, de pena, de tolerância, de desilusão e acima tudo, dela se fica sabendo, que o coração não dói, mesmo quando se sente como uma lâmina afiada, cortando de fininho, tentando mostrar o contrário.
A tristeza é uma emoção única do nosso viver, trás em si, o que nos torna mais fortes, mais capazes, mais competentes e resistentes para o presente, levando-nos a entender que se vivermos um dia de cada vez, a sua permanência se torna mais leve, suportável e menos repetitiva.


dc



domingo, 21 de agosto de 2016

Espreguiçar é bom




Sabe bem acordar e ter aquele prazer de esticar os braços e as pernas na sua máxima extensão, como libertando o resto do sono. Normalmente o espreguiçar surge depois de uma noite de um bom sono. É um momento “In”, quase fazemos apneia contendo a respiração e depois libertando de forma sonora o ar retesando o corpo. A voz na maioria das vezes fica quente, “preguiçosa, lânguida, que entre casais origina circunstâncias óptimas para o desenvolver da ternura, da conversa, da caricia e algumas vezes ir mais além.

O espreguiçar é uma resposta natural do corpo à necessidade de eliminar a tensão muscular e das articulações, fazendo o sangue a afluir mais depressa às zonas em causa. Os animais fazem-no com grande sabedoria e várias vezes ao dia em especial os que nos estão mais próximos, os gatos e os cães.

Embora na maioria das vezes o espreguiçar surja ao acordar, ele também acontece em diferentes circunstâncias do nosso dia à dia. Durante uma conversa que se arrasta por longo tempo, Quando envolvidos horas consecutivas no nosso trabalho, chega uma hora em que nos vem de dentro aquela vontade de libertar o corpo da tensão, Enfastiados por algo, usamos o espreguiçar e o bocejar como forma de ultrapassar essa situação anulando as tensões acumuladas.
O ritmo imposto pelos tempos modernos, de constante, corre corre, deixa-nos tensos. A modernidade e as novas tecnologias, aumentam o número de horas de trabalho, com ferramentas menos exigentes, quanto à aplicação do esforço braçal, mas com maior rotina, exigência intelectual e postura corporal, trazendo para ordem do dia, as chamadas doenças de trabalho, o que aportam uma cada vez maior necessidade de libertar o corpo em momentos de tensão.

O espreguiçar no juízo comum das pessoas, não deve ser feito em público, por uma questão de respeito (?) para com os outros, sendo assim interpretado, impede-nos de eliminar o tal desconforto físico. Na verdade, essas “regras sociais” talvez sejam uma contradição com aquilo que o espreguiçar trás de benefício.

Espreguiçar é bom, para uns mais do que outros, Se na intimidade todos o podem fazer, nas outras circunstâncias, falta sabermos o melhor momento para o fazer ou evitar. Quase apetece dizer, que se existem salas de “fumo”, seria bom criar salas de espreguiçamento... (riso)


dc







sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Apreender o Silêncio



   "O silêncio é o tempo perfurado por ruídos" - Marc de Smedt

Tantas vezes, tantas horas e desoras, o silêncio aconteceu para se pronunciar a meu favor, defendendo-me da agressão que não queria, da presença nefasta, do ruído que incomoda em diferentes momentos. Silêncio sugestão do que se não diz.
Não temo o silêncio, sempre que ele é opção pessoal, que não fecho de boca, nem violência na liberdade de dizer, mas a mudez assumida.  Tenho-o como companheiro íntimo de horas más, em que me ajuda a encontrar a solução, a ideia, a evitar o disparate de abrir a boca a quente, sem ponderar o que dela sai, de me impedir ser frágil por incontinência emocional, que me trás a calma, que me ajuda a ser mais forte. Tenho-o presente também nas horas boas, no “aquecer dos motores” para avançar, gozar do êxito no meu recato, rir-me dos que previam o meu fracasso, orgulhar-me sozinho do meu sucesso, sem parecer arrogante aos olhos transversos dos que sempre esperam a escorregadela, de viver na harmonia do ruído que completa esse silêncio só meu.
É ele que me entende melhor, porque não questiona a minha opção de o ter perto, de querer ficar ali olhando o infinito, não questionando o meu propósito, de me abraçar puramente pelo gozo da entrega.
Há quem precise de realizar as emoções, possuindo um carro, dinheiro, ou outros bens materiais, eu consolo-me em possuir esta liberdade de não ser incomodado, por todos os que não quero, por tudo o que não desejo.
Aprender com o silêncio é uma arma poderosa, para travar o discurso prolixo, a raiva descomandada, o infernizar dos dias. Aprender com o silêncio a navegar em águas calmas, na mudez das palavras, na ausência do gesto, no recuperar da nossa intimidade.
No agora, fico-me repousando o olhar nas lombadas dos livros, esses amigos eternos e silenciosos que me suportam.

dc


     Se a palavra que vais dizer não é mais bela que o silêncio, não a digas
    -Parábola Sufi

VIRTUALIZANDO





De quando em vez, a voz, de quando em vez, a mensagem, chegando a conta gotas, sem se saber como, as perguntas e as respostas se vão desfazendo, Como todo o conhecimento, quanto mais sabemos mais queremos saber, as dúvidas sempre se vão mantendo, com a ansia de ver, lá longe, no fundo dos olhos tal qual somos. Há caminhos difíceis trilhados em separado, com lugares de desdita, de acontecimentos, que deixam manchas negras na alma, e doutros de felicidade extrema, uns e outros limitam os sentires. Tememos a dor no presente, por reflexo do passado, mas este tem de ficar arrecadado como experiência, e só, para que não nos afaste do objectivo desejado. Usamos linguagem verbalizada como pronúncia dos desejos, como expressão das vontades, Na terra e no mar, na distância, nas condições objectivas da realidade, há obstáculos que travam o que seria mais imediato se não existissem. As palavras, são usadas para quem escuta sem ouvir, que sente sem tocar, que pensa como se estivesses dentro do seu pensar... Desdobrou-se o mapa, escolheu-se o destino, falta saber o que as acções trazem de concreto. Nada na vida é definitivo, sempre existe a dúvida, se chove, se faz sol, ou se venteja.. Na escolha do momento propicio para avançar, está o cuidado de não se queimarem etapas, pondo em causa o objectivo. Está à distância de um click, a explosão dos acontecimentos, importante é que o rastilho não esmoreça, para que a realidade aconteça.

dc


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Saí do meu "canto"


Praia do Magoito

Saí do meu canto, das minhas rotinas, fui ao desencontro intencional da existência comum. Deixei-me perturbar por ambientes estranhos, lugares diferentes, pessoas singulares. Furtei-me das minhas rotinas e deixei-me envolver pelas não rotinas dos outros, mesmo que nem sempre as melhores.
Fiquei horas intermináveis ao sol, brutamente ao sol, no areal da praia, banhei-me num mar que temi, em água fria que não pedi, Caminhei por montes rasgando o céu, só, como eles próprios, com os meus olhos colados à linha do horizonte desenhada pelo mar, com a brisa marcando a pele. Fiz caminhadas para ir à civilização do pão, para compor a mesa. Até passei por Cascais e pelo Guincho, lugares difíceis de habitar...
Entrei no Alentejo, que adoro, nos quarenta e quatro graus centigrados de temperatura. Aí, nadei tempos enormes, em piscina pública de grande qualidade, que as terras daqueles lugares fazem por manter activas e boas. Prendi-me aos casarios brancos, marcados pelo sol do meio dia, ou pelo sol do entardecer, tomados pelo tom rosa quente. Deixei-me perder pelas planícies. Fotografei casas, monumentos, torres de igrejas e castelos, de vários ângulos e diferentes momentos do dia, tentando fixar em imagem a emoção do que via. Iluminei a alma e o estômago com repastos, com o sabor gastronómico marcantes. Dormi em camas variadas, umas mais escaldantes outras menos, em lugares iluminados e outros onde uma vela ou uma lanterna serviam como referência.
Estive num lindo monte, gozando a riqueza das relações humanas, entre doutores e homens do campo, almoçando “Carpa grelhada”, Javali assado acompanhado de batata doce assada, courgetes e outras variedades de alimentos cozinhados no forno, saladas fabulosas, tudo feito com o gosto de quem recebe com prazer.

Os dias correram, na suavidade e irresponsabilidade, de quem não quer saber do mundo tal qual ele se encontra, como uma lobotomia estabelecida com prazos de começo e extinção. A isto chamei-lhe férias. E gostei.


dc


Alentejo - Sousel