Para quê te acordar, se a voz que ouves só interrompe o fastio do sono? Sim, para quê, para dar a notícia do nevoeiro matinal e da noite mal dormida, ou a perspectiva lamurienta do dia que nasce? Já passou o tempo em que o acordar ao som das minhas falas era um hino de alegria, só por si, o sol do dia que nascia. Agora só te sai de dentro, bem do fundo, a voz empastada que arrasta os pesadelos da noite mal dormida. Não queres ouvir nenhuma voz, queres tentar manter o fio condutor da razão do sonho, que nesse preguiçar se te arrasta debaixo da língua, não te deixando sequer concentrar nas palavras que ouves. Desconfias, porque razão aquela hora alguém te pode incomodar só para te desejar um bom dia e te espevitar, se nem estás curiosa de saber, o que as falas te trariam de novo para o aconchego do dia. É verdade que em tempos pensavas seria bom receber as falas maviosas ao acordar e estarias sempre disponível, mas com o decorrer dos tempos os objectivos foram-se alterando, e as frases deixaram de se encadear. É o ranço da rotina, que perfilha a ausência, que se vai assenhorando, deixando-nos inertes.
A crise, essa malfadada crise económica, que serve para congelar tudo o que a toca, embora seja real, serve para se parar na bruma, os sentimentos e os pensamentos e revelar todas as nossas fraquezas. Descobrimos afinal que fomos perdendo os valores que perfilhamos ao longo de uma vida, e percebemos que nos foram criadas necessidades materiais, mais do que as ideais, para nos amarrarem e subjugar, à casa, ao carro, ao telemóvel, a televisão e até às estantes carregadas de objectos inúteis. Afinal as emoções, os valores foram escorregando para o desespero do pagamento das obrigações diárias, das mensalidades a satisfazer no banco, e duma vez por todas sentir que sobra mês e falta dinheiro. Então para quê te acordar se já nem te revoltas?
DC
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
então PARA QUÊ ACORDAR?
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Foto: Diamantino Carvalho
domingo, 31 de agosto de 2014
No Calor do GirasSol
O girassol sugere o sol e a sua luminosidade, A sua simetria, as suas pétalas douradas como raios de sol e suaves ao toque, o castanho da corola central com os seus estames, a grandeza do seu diâmetro e o pé elevado, fazem-no sobressair das demais plantas, dando-lhe um porte altivo e ao mesmo tempo elegante, fascinando quem o observa.
Quando olho um girassol, sinto uma espécie de calor interior reconfortante, numa proposta de meditação e regresso aos tempos ancestrais. Por isso, sempre que o observo procuro fixá-lo em imagens que vou captando através da máquina fotográfica, como se quisesse preservar a sua existência para os dias frios em que ele não está.
O Agosto finda sem que deixe grandes marcas do seu calor habitual, mas ficamos com o girassol para nos aquecer por dentro.
DC
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Fotos:Diamantino Carvalho
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Uma estória que aconteceu, ou podia acontecer
Havia momentos, estando em casa, em que via um filme com uma qualquer estória, só para amarrar o olhar, para que não se dispersasse observando o interior de si.
Preferia agarrar-se ao que ouvia e ao que via. São outros com o seu dizer. É um outro olhar sobre uma realidade acontecida, ou prevista acontecer, Uma leitura com imagens por vezes tão ricas, que nos deixam palmilhando caminhos, vivendo diferentes atmosferas sociais, amores incompreendidos, corpos, almas(?), vinganças, doenças, alegrias e cansaços, Tudo se abrange, naquele tempo em que se amarra, Afasta-se de tudo, mesmo quando o relatado tem um pouco da sua própria estória.
De quando em vez, inquieto, mexe-se e respira mais fundo quando a tensão aumenta ou tristeza se aproxima, porque a estória se perdeu da comédia, Aí, faz uma pausa para não lhe dar continuidade, não quer sentir o desconforto que se avizinha; às vezes, salta uns tantos fotogramas avançando, como se fosse um livro a quem deixamos para trás as folhas que não queremos ler.
As imagens se desvanecem, a estória contada fica pairando no ar durante algum tempo, é um momento único de silêncio, só a mente se agita como um olhar à procura de encontrar. Tudo foi absorvido como uma esponja, sem se preocupar muito em reflectir, agora vai espremendo lentamente como que anestesiado, Quer continuar amarrado divagando, flutuando, fugindo do seu mundo real, olhando sem ver, só ele e os seus amigos de todos os dias, preenchendo as estantes, os livros, nas paredes, as pinturas. As sombras das luzes baixas, alimentam os fantasmas projectados pelas sombras de uma estória que aconteceu, ou podia acontecer.
DC
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Foto: Diamantino Carvalho
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
O TEMPO NÃO PÁRA
Corre sem parar, cada vez que o deixamos passar, como o rio, que não corre no mesmo leito duas vezes, ele se vai e com ele a oportunidade, seja de tristeza, de alegria, solidão ou amor.
Ele se marca por milésimos, segundos, minutos horas, e a acumulação de tudo isso, dá toda uma existência marcada com o ferrete, do sem retorno. Todos gostariam, em algum momento, poder parar essa roda inexorável, fazer uma pausa, ter o “tempo” necessário para melhorar e evitar o erro. Só a memória, por vezes, simula essa paragem, deixando-nos perdidos sem saber desse “tempo”.
Felizmente, não é possível travar o “tempo” e emendar, se assim fosse a vida nos não traria a aprendizagem e esta consciência da importância de parar num determinado tempo, mesmo sabendo que não é possível. Se parássemos, como cresceríamos, ou perspectivaríamos novos caminhos, novos projectos, enfim viver.
Se por um lado queremos parar o “tempo”, por outro temos consciência, que o “tempo” não regressa, e como tal teremos de construir e aproveitar melhor o “tempo real”, para não pensarmos que algum dia podemos querer parar o relógio que marca o nosso "tempo".
DC
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Foto:Diamantino Carvalho
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
O lugar é bucólico...
Fui para ver as exposições e mais uma vez sentir o prazer de passear naqueles jardins, encontrando um pouco de paz.
Ali sentado no banco de madeira, procurava o sossego que me tinha faltado nos últimos dias. Olhava o pasto verde onde os bois se sentavam como estátuas, fazendo uma pausa no seu mundo, enquanto eu procurava encontrar o meu. Era mesmo aquilo que pretendia, Sentir aquela mistura dos diferentes cheiros pairando no ar, e sentir a agitação da própria natureza e seu universo. O cheiro da erva, dos animais, da terra escura e húmida, das árvores, O rumorejar da brisa leve agitando a folhagem e o sol trazendo a luz e as sombras.
De momento para outro, cruzam-se as diferentes morfologias físicas e línguas, perante os meus olhos e ouvidos, Os visitantes invadiam o espaço.
As crianças arredondam os olhos vendo os animais, e apreciam cada um dos movimentos do seu corpo, Uns espantam-se e questionam os adultos, que os acompanham, com perguntas sucessivas, sobre a sua qualidade, a sua dimensão, a razão de os bois terem aqueles cornos enormes na cabeça e o por quê, de estarem ali, enquanto outros, ficam silenciosos pelo espanto do que observam, como se nunca tivessem visto tal coisa - se calhar citadinos, não viram mesmo. Em ambos os casos ,as crianças vou ouvindo e recebendo de forma muito pedagógica(?), o acerto ou desacerto das respostas dos adultos que, por vezes, se tornam enfadonhos.
Alguns adultos fotografam, com telemóvel, máquina digital, ou analógica, tudo serve para fixar o momento, Uns captam os animais, as companheiras, com os cornos dos ditos bois bem no fundo da imagem, Outros sentam-se nos bancos madeira desocupados, fazendo numa pausa, enchendo o ar com algaraviado de sons e línguas para mim desconhecidas, no meio de diferentes tonalidades de português. Falam à vontade sem medo, que aqui o “tuga”, possa perceber.
O lugar é bucólico, mas ao domingo demasiado “turístico”, daí o fim do sossego por algum tempo.
Conforme chegaram, partiram, e até que venha nova “fornada”, o ambiente retoma o seu desenho, voltando ao estado puro. Aí, volto eu às minhas cogitações, e estabeleço paralelismo entre o que ali momentaneamente ocorreu e o mundo para o qual as obras de arte nos transportam, Talvez, também elas sejam resultado de pausas e movimento, Nuns casos cheias de ruídos de fundo, outras simples e encantatórias, e ainda outras carregadas de absurdos, apanhando, como eu aqui sentado, os incautos por não estarem devidamente qualificados para perceberem a sua estética(?).
Entretanto os bois ruminam indiferentes a quem os observa, os burros e machos continuam retoiçando a relva. Penso: “que se lixem as interrupções” elas servem para perceber e apreciar melhor as pausas.
DC
terça-feira, 12 de agosto de 2014
NÃO BASTA MUDAR DE LUGAR
Os anos vão passando sem que se refaça. A espera tem sido longa e a busca para se reencontrar tem sido difícil. Enfadonhos os tempos mortos, com que enfrenta os dias. Não há Primavera nos seus olhos, nem sol que o aqueça, só Outonos e Invernos frios, Continua preso nas grades invisíveis, que foi colocando entre si e todos os outros, reservando-se ao seu silêncio.
Um dia, quando guerrilheiro de seu amor, perdeu as falas da ternura, as noites de vigília de abraços e beijos, as conversas sobre os novos amanhãs, que naquele tempo de revolução se misturavam, Ficou sem chão, as crenças e a inocência se desvaneceram.
Restam as marcas profundas, como ferimentos mal curados, que no passar dos dedos do tempo se tornam demasiado presentes.
Quantas falas novas se projectaram, meias palavras se soletraram, sem que as “coisas” acontecessem.. por uma “coisinha assim...”. Só resta esperar, que um dia num tropeço do caminho volte acontecer, e que aquela “coisinha” que falta, esteja lá.
Talvez não baste a mudança física do lugar, talvez seja preciso mudar por dentro, para não trazer acoplados resíduos inconvenientes, que impedem que a luz entre. É preciso um sol do meio dia de sombras mais reduzidas, que aclare o corpo, alimente a mente e aqueça o coração.
DC
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Foto. Diamantino Carvalho
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
VER, OUVIR E SENTIR
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Foto. internet
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