domingo, 21 de agosto de 2016

Espreguiçar é bom




Sabe bem acordar e ter aquele prazer de esticar os braços e as pernas na sua máxima extensão, como libertando o resto do sono. Normalmente o espreguiçar surge depois de uma noite de um bom sono. É um momento “In”, quase fazemos apneia contendo a respiração e depois libertando de forma sonora o ar retesando o corpo. A voz na maioria das vezes fica quente, “preguiçosa, lânguida, que entre casais origina circunstâncias óptimas para o desenvolver da ternura, da conversa, da caricia e algumas vezes ir mais além.

O espreguiçar é uma resposta natural do corpo à necessidade de eliminar a tensão muscular e das articulações, fazendo o sangue a afluir mais depressa às zonas em causa. Os animais fazem-no com grande sabedoria e várias vezes ao dia em especial os que nos estão mais próximos, os gatos e os cães.

Embora na maioria das vezes o espreguiçar surja ao acordar, ele também acontece em diferentes circunstâncias do nosso dia à dia. Durante uma conversa que se arrasta por longo tempo, Quando envolvidos horas consecutivas no nosso trabalho, chega uma hora em que nos vem de dentro aquela vontade de libertar o corpo da tensão, Enfastiados por algo, usamos o espreguiçar e o bocejar como forma de ultrapassar essa situação anulando as tensões acumuladas.
O ritmo imposto pelos tempos modernos, de constante, corre corre, deixa-nos tensos. A modernidade e as novas tecnologias, aumentam o número de horas de trabalho, com ferramentas menos exigentes, quanto à aplicação do esforço braçal, mas com maior rotina, exigência intelectual e postura corporal, trazendo para ordem do dia, as chamadas doenças de trabalho, o que aportam uma cada vez maior necessidade de libertar o corpo em momentos de tensão.

O espreguiçar no juízo comum das pessoas, não deve ser feito em público, por uma questão de respeito (?) para com os outros, sendo assim interpretado, impede-nos de eliminar o tal desconforto físico. Na verdade, essas “regras sociais” talvez sejam uma contradição com aquilo que o espreguiçar trás de benefício.

Espreguiçar é bom, para uns mais do que outros, Se na intimidade todos o podem fazer, nas outras circunstâncias, falta sabermos o melhor momento para o fazer ou evitar. Quase apetece dizer, que se existem salas de “fumo”, seria bom criar salas de espreguiçamento... (riso)


dc







sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Apreender o Silêncio



   "O silêncio é o tempo perfurado por ruídos" - Marc de Smedt

Tantas vezes, tantas horas e desoras, o silêncio aconteceu para se pronunciar a meu favor, defendendo-me da agressão que não queria, da presença nefasta, do ruído que incomoda em diferentes momentos. Silêncio sugestão do que se não diz.
Não temo o silêncio, sempre que ele é opção pessoal, que não fecho de boca, nem violência na liberdade de dizer, mas a mudez assumida.  Tenho-o como companheiro íntimo de horas más, em que me ajuda a encontrar a solução, a ideia, a evitar o disparate de abrir a boca a quente, sem ponderar o que dela sai, de me impedir ser frágil por incontinência emocional, que me trás a calma, que me ajuda a ser mais forte. Tenho-o presente também nas horas boas, no “aquecer dos motores” para avançar, gozar do êxito no meu recato, rir-me dos que previam o meu fracasso, orgulhar-me sozinho do meu sucesso, sem parecer arrogante aos olhos transversos dos que sempre esperam a escorregadela, de viver na harmonia do ruído que completa esse silêncio só meu.
É ele que me entende melhor, porque não questiona a minha opção de o ter perto, de querer ficar ali olhando o infinito, não questionando o meu propósito, de me abraçar puramente pelo gozo da entrega.
Há quem precise de realizar as emoções, possuindo um carro, dinheiro, ou outros bens materiais, eu consolo-me em possuir esta liberdade de não ser incomodado, por todos os que não quero, por tudo o que não desejo.
Aprender com o silêncio é uma arma poderosa, para travar o discurso prolixo, a raiva descomandada, o infernizar dos dias. Aprender com o silêncio a navegar em águas calmas, na mudez das palavras, na ausência do gesto, no recuperar da nossa intimidade.
No agora, fico-me repousando o olhar nas lombadas dos livros, esses amigos eternos e silenciosos que me suportam.

dc


     Se a palavra que vais dizer não é mais bela que o silêncio, não a digas
    -Parábola Sufi

VIRTUALIZANDO





De quando em vez, a voz, de quando em vez, a mensagem, chegando a conta gotas, sem se saber como, as perguntas e as respostas se vão desfazendo, Como todo o conhecimento, quanto mais sabemos mais queremos saber, as dúvidas sempre se vão mantendo, com a ansia de ver, lá longe, no fundo dos olhos tal qual somos. Há caminhos difíceis trilhados em separado, com lugares de desdita, de acontecimentos, que deixam manchas negras na alma, e doutros de felicidade extrema, uns e outros limitam os sentires. Tememos a dor no presente, por reflexo do passado, mas este tem de ficar arrecadado como experiência, e só, para que não nos afaste do objectivo desejado. Usamos linguagem verbalizada como pronúncia dos desejos, como expressão das vontades, Na terra e no mar, na distância, nas condições objectivas da realidade, há obstáculos que travam o que seria mais imediato se não existissem. As palavras, são usadas para quem escuta sem ouvir, que sente sem tocar, que pensa como se estivesses dentro do seu pensar... Desdobrou-se o mapa, escolheu-se o destino, falta saber o que as acções trazem de concreto. Nada na vida é definitivo, sempre existe a dúvida, se chove, se faz sol, ou se venteja.. Na escolha do momento propicio para avançar, está o cuidado de não se queimarem etapas, pondo em causa o objectivo. Está à distância de um click, a explosão dos acontecimentos, importante é que o rastilho não esmoreça, para que a realidade aconteça.

dc


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Saí do meu "canto"


Praia do Magoito

Saí do meu canto, das minhas rotinas, fui ao desencontro intencional da existência comum. Deixei-me perturbar por ambientes estranhos, lugares diferentes, pessoas singulares. Furtei-me das minhas rotinas e deixei-me envolver pelas não rotinas dos outros, mesmo que nem sempre as melhores.
Fiquei horas intermináveis ao sol, brutamente ao sol, no areal da praia, banhei-me num mar que temi, em água fria que não pedi, Caminhei por montes rasgando o céu, só, como eles próprios, com os meus olhos colados à linha do horizonte desenhada pelo mar, com a brisa marcando a pele. Fiz caminhadas para ir à civilização do pão, para compor a mesa. Até passei por Cascais e pelo Guincho, lugares difíceis de habitar...
Entrei no Alentejo, que adoro, nos quarenta e quatro graus centigrados de temperatura. Aí, nadei tempos enormes, em piscina pública de grande qualidade, que as terras daqueles lugares fazem por manter activas e boas. Prendi-me aos casarios brancos, marcados pelo sol do meio dia, ou pelo sol do entardecer, tomados pelo tom rosa quente. Deixei-me perder pelas planícies. Fotografei casas, monumentos, torres de igrejas e castelos, de vários ângulos e diferentes momentos do dia, tentando fixar em imagem a emoção do que via. Iluminei a alma e o estômago com repastos, com o sabor gastronómico marcantes. Dormi em camas variadas, umas mais escaldantes outras menos, em lugares iluminados e outros onde uma vela ou uma lanterna serviam como referência.
Estive num lindo monte, gozando a riqueza das relações humanas, entre doutores e homens do campo, almoçando “Carpa grelhada”, Javali assado acompanhado de batata doce assada, courgetes e outras variedades de alimentos cozinhados no forno, saladas fabulosas, tudo feito com o gosto de quem recebe com prazer.

Os dias correram, na suavidade e irresponsabilidade, de quem não quer saber do mundo tal qual ele se encontra, como uma lobotomia estabelecida com prazos de começo e extinção. A isto chamei-lhe férias. E gostei.


dc


Alentejo - Sousel

terça-feira, 26 de julho de 2016

DETALHES




Nas sombras da manhã, se espartilha o sono que lateja nas têmporas,
os vincos nos lençóis marcam a agitação dos pesadelos e da insónia prevalecente. É tão difícil suportar a ausência naquele espaço de intimidade. Perdem-se os cheiros, a indecisão cómica do levantar, que se vai adiando, o rolar dos corpos, as primeiras e últimas palavras antes da dinâmica do dia.
O tactear encontra a almofada, o vazio, O espreguiçar perdeu a graça do significado físico e pretexto de sorriso. Talvez sejam detalhes, mas na verdade, como a obra de arte, mesmo quando parece simples ao olhar comum, é nos detalhes, muitas vezes invisíveis de imediato, que ela se estrutura e adquire a sua importância. Aqueles pequenos detalhes, que têm grande  peso especifico na relação entre dois, em gestos e atitudes como fonte principal da nossa comunicação no nascer dos dias.
Não precisávamos de falar muito, éramos e só.
Resta agora o silêncio, os ruídos da madeira seca da cama quando me sento...e os sons amortecidos pela janela que trazem da rua a outra vida que não tu.

dc