terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PLACAS DE WC

Esta é uma das muitas funções que cabem aos designers e também em alguns casos aos arquitectos.
O design Gráfico procura clarificar e facilitar a comunicação. Através do design se consegue fazer com que a mensagem cumpra a sua função, que tenha qualidade estética.

Os exemplos apresentados, mostram como uma simples placa de WC, pode transmitir de formas criativas e variadas uma mesma função comunicativa.

FOLHA DE UM DIÁRIO

No teu rosto o espanto da minha resposta. Eu disse que sim à tua pergunta. Aceitei ir de comboio levar-te a casa. De todo, esperavas a minha anuência, tinhas feito uma provocação, para acirrar o meu interesse. Foste surpreendida e o meu entusiasmo deixou-te a pensar.

Nós conhecemo-nos nos corredores da faculdade. Era no entanto na cantina onde habitualmente tomavas o teu chá sem açúcar, antes de ires para aula de pintura, que mais convivíamos. Cedo me seduziste com teu semi-sorriso irónico, contrariando o teu olhar curioso e interessado. Quando falávamos, perdia-me olhando a tua boca carnuda que se abria e fechava, para soltar as palavras, nem sequer ouvia, preso pelos trejeitos que tornavam doce o teu rosto, e em mim uma vontade enorme de te tocar as faces.
Comecei a ansiar os dias em que tinhas aulas práticas e sabia que te encontrava. Sabia que podíamos aproveitar o intervalo para conversarmos com um chávena de chá pela frente. Quando assim não acontecia, fazia um intervalo na minha aula e irrompia pela tua de surpresa. O teu riso malandro ficava no ar, enquanto, os pincéis e as mãos se mexiam enchendo a tela. Pousavas o pincel e com as mãos mostravas partes, onde procuravas alterar as cores, a composição e ias “sujando”, nos sítios onde a tinta estava fresca.
Não sei muito bem, quando terá acontecido, a primeira vez, que as tuas mãos expressivas e suaves, começaram a pintar as minhas, pressionando os meus dedos, envolvendo-as com as tuas carícias e o teu calor.
Não sei quando surgiu o primeiro beijo. quando senti o teu hálito suave, os lábios macios como algodão doce, quentes. só me lembro da eternidade que durou e de sentir a boca dorida. No entanto lembro-me bem, daquela vernissage, com trabalhos de colegas nossos. Da qual saímos e fomos até ao Passeio Alegre, na Foz. antes de ires para casa. ali, junto ao rio, ficamos conversando, namorando com as tuas mãos, como sempre, agarrando as minhas em quanto nos beijávamos com intensidade. a hora tardia e as bocas doridas, já quase não se podiam tocar. falavam a necessidade de partires.

Tudo se passou até aquele tal dia, em que viajamos para tua casa. Vivias a alguns quilómetros do Porto. Ambos, nervosos e excitados. Fomos falando e inventando, sobre o que seria o nosso almoço, como se fosse, naquele momento, a nossa preocupação maior. de verdade, eu não conseguia deixar de olhar para teu cabelo dourado e encaracolado, caindo sobre os ombros. para os teus olhos amendoados. para tua boca de lábios cheios, que dançavam a cada palavra e perdia-me.
O almoço à base de salada, foi prático, quase silencioso, as expressões de cada um falavam mais. Rápido voltamos à sala comum enorme, e recolhemo-nos no sofá, dando asas aos nossos desejos. carícias. beijos prolongados, de gozo. mãos que se tocam, corpos que despem e cheiros que se sentem. entrelaçamo-nos como se um só corpo existisse. depois a calma. Um tempo depois. eterno. deitados no chão alcatifado, olhando o tecto fomos conversando. as mãos, sempre as mãos, se misturavam umas nas outras, como com medo de se ganharem distância. foi o prelúdio doce de um recomeço, como se após o reconhecimento, se reatasse o caminho. agora com mais segurança explorando cada poro, cada beijo, cada toque, como únicos de sensibilidade e prazer. eu sempre focado nos teus olhos, que me envolviam. enquanto os corpos se buscavam. tudo fazendo para que se prolongasse o momento.
O final da tarde chegou, e assim a hora de eu partir. Alguém ia chegar e eu tinha de partir. Já no comboio, sentado de costas para o destino, deixava que me afastassem daquele lugar e com ele parte de mim. as memórias ainda recentes desfilaram na minha mente, como um filme, em três dimensões. calor, cheiros e sensações dispares acompanhavam as imagens. uma calma estranha se apoderara de mim.

Do mesmo modo, sem saber como tudo isto começou e aconteceu, nunca soube porque terminou. Talvez o fim das aulas, e com ele o final do curso, tenha sido a razão. Mais tarde, embora nos víssemos de quando em vez, de passagem, e somente o suficiente, mantínhamos os mesmos olhares. Em mim, a mesma sensação de perda.
A sensação de perda durou tempo. Anos depois, ao visitar uma das suas exposições, acompanhado com uma amiga. senti-me traindo. saí fugindo do seu sorriso, dos teus olhos cada vez mais misteriosos, que me tinham sugado um pouco da existência. Os anos passaram. Um dia voltei à sua cidade, telefonei-lhe dizendo, estou aqui! As mãos já não se encontraram, falamos dos filhos, da nossa distância, dos sucessos e insucessos, mas no final, quando nos separamos para os nossos destinos a sensação de perda ficou novamente viva.

Corremos o tempo sempre procurando oportunidades para nos realizarmos emocionalmente, e elas fogem-nos entre os dedos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

SILÊNCIOS e silêncios

“Falar ajuda a resolver problemas. O SILÊNCIO aumenta-os. Obviamente existe lugar para SILÊNCIOS, mas falar é produtivo, divertido, sinal de companheirismo, amizade, ternura, amor, bondade. Os SILÊNCIOS, podem ser enfadonhos, inúteis destrutivos e ameaçadores."
Fechamo-nos no silêncio para encontrar as respostas, e elas não surgem. O silêncio não fala, as respostas estão em nós, e por vezes no meio do maior ruído elas se evidenciam. Talvez no silêncio se encontre a paz, temporária, necessária, para que em um outro momento se encontrem as respostas, ás questões que ao silêncio deram origem. Por vezes, podemos pedir desculpa e manter a nossa dignidade e auto-respeito, sem precisar do silêncio. Confuso? Talvez, mas a culpa é do silêncio, nem sempre apropriado.

POR VEZES UMA VELA


Por vezes, uma vela funciona como objecto decorativo
Por vezes, uma vela é um acto de supersticão, ou religioso
Por vezes, uma vela "aquece" o ambiente e permite-nos ler para além do que nos rodeia
Por vezes, uma vela se acende, para lembrar alguém que nos faz falta
Por vezes, uma vela é uma forma de comunicar entre silêncios
Por vezes, uma vela é um sinal de encontro entre dois seres que se amam

domingo, 29 de janeiro de 2012

ONDE ESTÁ A MINHA CIDADE



Em tempos passados, passear na cidade, ajudava a debelar angústias, e acalmar o espírito, no chamado “passeio dos tristes”, nos deixava folgados física e mentalmente para os dias duros do dia à dia.
Caminhei por algumas das ruas da minha cidade, e apercebi-me, pela primeira vez, que a idade se marca pelas mudanças. A cada momento, um lugar de referência de outrora desapareceu. Desaparecem cantos, esquinas, edifícios, jardins. Desapareceram lugares para as crianças brincarem e jogarem à bola, nem ás "escondidas" e com eles as memórias. Estas, são o único local onde existe a “minha cidade”.
O progresso abre caminhos a direito, e nem sempre para melhor. Sentimos um frio enorme com o aparecimento indiscriminado do betão. As árvores e os quintais desaparecem e dão lugar a centros comerciais, bancos em espaços de lazer, onde ninguém se sente bem para estar e grandes superfícies lisas, desertas, com revivalismo surpreendente, sobretudo nos limites, do centro da cidade.
Hoje ao caminhar na cidade, senti-me mais só do que já estava, senti-me perdido, quase precisei de um GPS, para saber onde estava. A cidade vulgariza-se torna-se muito igual a muitas outras por esse mundo fora perdendo a identidade regional e nacional. Mas pior de tudo é a sensação de perda que sentimos, quando o chamado progresso, não nos integra como seres humanos e nos arrasta para uma ausência de alegria e prazer de dizer “esta é a minha cidade”.


Para alguém que viveu esta cidade. E que teve a sorte, ainda, de ver locais onde a mudança não retirara as suas referências do passado.

sábado, 28 de janeiro de 2012

QUANDO TE VAIS EMBORA


Quando te vais embora, os dias são longos e a noite se torna fria.
Só o horizonte em pleno mar, marca a diferença, entre o céu e o inferno.
Lá procuro a resposta, com o ruído de fundo das gaivotas.
O tempo pára. Não quero sentir a partida, somente a chegada.
Com ela o sorriso, a voz e os cheiros, como anúncio do fim de inverno.
A angústia desaparece. Renasce o mundo, anunciando a primavera




CÉU AZUL


Um rasto de folhas secas e dor

Por vezes contrariamos e sustentamos os obstáculos invisíveis
.
Matamos de sede à flor que nasce.

Irremediavelmente ela fenece deixando um rasto de folhas secas e dor

Se não partilhamos sentires, verdades, valores, emoções, vontades
.

Se não perdermos o medo ao fracasso, fracassamos por medo de experimentar


É no levantar de cada queda, que nasce um força maior, que constrói o amor.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Antes que o adeus aconteça

Pensar, sentir, viver, antes que o adeus aconteça.  Nada pior do que o medo de dizer, tudo o que se sente. Nada pior, do que deixar que as palavras e as vozes morram, e só reste um adeus. Importante, é evitar que se cerrem as bocas com medo das palavras e dos beijos, que se amarrem os braços com medo de abraçar. Importante, é evitar que chegue o momento "em que já nada temos para dar, dentro de nós".

 de Eugénio de Andrade

Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.
 

APRENDER COM A NATUREZA


Só da união de todos os portugueses, contra as políticas desastrosas deste governo, é que poderemos evitar, no ano de 2012, que o número de desempregados chegue a cima de um milhão. E como sabemos, os direitos dos trabalhadores perante o desemprego foram diminuídos com consequências desastrosas para todos nós.

"A análise das medidas para 2012constantes do Memorando revisto em Dezembro de 2011, à margem da Assembleia da República, o governo e a “troika” estrangeira, confirma o carácter irrealista e desumano daquilo que o governo e “troika” pretendem impor aos portugueses em 2012. Governo e “troika” tencionam reduzir os salários do sector público em, pelo menos, 3.000 milhões €, o que vai determinar uma degradação, por falta de pessoal e desmotivação, de serviços públicos essenciais à população
(educação, saúde, segurança social, justiça, etc.); diminuir as despesas com pensões em 1.260 milhões € o que vai lançar muitos milhares de pensionistas na pobreza; cortar 1000   € nasdespesas públicas com a saúde e 380 milhões € nas despesas com educação, o que levará a uma grande degradação dos serviços públicos de saúde e de educação; reduzir o investimento público em 200 milhões €, o que contribuirá para que não se crie emprego; baixar em 100 milhões € as transferências do OE destinadas a prestações sociais, o que fará aumentar a pobreza e a miséria; reduzir as transferências para as Autarquias em 175 milhões € e cortar mais 130 milhões € despesas pública por aumento da eficiência, embora não diga onde e como, etc., etc."
 Eugénio Rosa, Economista
edr2@netcabo.pt 28.12.2011




Amor porque fugiste


Pois é, vais-te ficar por aqui. Não vale a pena chorar pelo passado que não volta nem pelo futuro que não sabes. Pensavas que um dia chegaria a hora de partir e terias sabido qual o paladar do amor. Qual o seu cheiro, a sua ternura, o seu calor e alegria...ficaste parado no tempo, deixaste preguiçar-te perdendo oportunidades umas atrás das outras, não por quereres mas porque não te apercebias que elas estavam ali na tua frente. Tu bem sonhavas, imaginavas beijos abraços ternuras. Tu bem imaginavas o beijo e as palavras quentes e profundas do teu amor, aquela alma que te complementava a vida. Adoravas imaginar os olhos brilhantes depois do amor, depois do amplexo final. Daquele mundo de carícias que se transforma (dizem) em explosões de estrelas, de torrentes de lava que percorrem o corpo moldando-o à terra onde fecunda.

Sofre-se na pele a revolta, pelo o amor que se quer e não aparece. O amor que não nos vem aquecer a vida. Arrepiámo-nos por saber a morte cada vez mais perto, e a esperança tornar-se cada vez mais ténue.
Onde estás tu, rosto corpo alma, que fugiste do seu amor? Porque razão, tu não destilaste a química dos amantes? O que te fez afugentar, a alma que te completaria? Esta é a crueldade de quem vive, em tempo moderno, sonho antigo. Tudo está mais perto, mas as almas amantes... cada vez mais longe. Quase apetece pôr anúncio, curto, sucinto: “ preciso de ti num corpo que não sei qual, numa alma que não sei bem o quê, de um rosto que de agrado existe, de uma inteligência que será livre de se exprimir numa qualquer cultura, quanto baste para seres. Dá-se quanto podes imaginar e muito mais quando duplicado no amor que serás.”
Nas ruas do sonho, ainda podes viver. A tua imaginação, fértil, irá dizer que ainda há vida para viver, mesmo que só aqui neste texto ela exista.
Na realidade, nessa cruel realidade, verás que difícil será que te entendam, e continuarás a ocupar o tempo lendo, analisando, trabalhando, falando e muitas vezes para o boneco. Verás no espelho o rosto cada vez mais carregado de rugas, verás que os olhos vão ficando baços, a carne flácida e a vontade de lutar se esbatendo. Lentamente criarás uma mente Alzhaimer, para que não te dês ao trabalho de sofrer em cada dia que passa. Restará sempre a pergunta: Amor porque fugiste?


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A MEIA DE LEITE


Hoje contrariei o orçamento de estado, o orçamento da miséria e da poupança. Fui ao café e tomei meia de leite e comi um pão torrado. Espero não ser notícia dos jornais por esta extravagância, pois dizem-me que ando a gastar mais do que posso. Se o governo e o nosso pobre presidente, que como eu vive da reforma. a minha é mesma má. resolverem punir-me, devem enviar-me para mesma cadeia daquele senhor do BPN, pois assim poderei comer, beber e dormir à custa dos impostos dos outros e não farei extravagâncias, poupando a mim próprio muito dinheirinho.
E assim digo, tenham muito bom dia.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

NÃO LAMENTEM O ARRENPENDIMENTO.

Um reflexão bem interessante sobre o não arrependimento.
" Porque a incapacidade de sentir arrependimento é na verdade uma característica do diagnóstico de sociopatas. Também é, já agora, a característica de certos tipos de danos cerebrais. As pessoas que apresentam danos no seu cortex frontal orbital parecem ser incapazes de sentir arrependimento mesmo quando confrontados com más decisões óbvias. Então se, de facto, querem viver uma vida livre de arrependimento ainda têm uma alternativa. Chama-se lobotomia. Mas se quiserem ser plenamente funcionais e plenamente humanos e plenamente sensíveis, Eu acho que precisamos de aprender a viver, não sem arrependimento, mas com ele."

Kathryn Schulz: Não lamentem o arrependimento

Kathryn Schulz: Don't regret regret

http://www.ted.com/talks/kathryn_schulz_don_t_regret_regret.html
 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

MÃE, NÃO SEI O QUE DIZER...



Como eu gostaria que este silêncio não existisse, nem estas cortinas que encobrem as minhas fraquezas e por vezes me impedem de ser humano.

Lembro-me de ti, carregada do luto, sempre com os olhos marejados de lágrimas, desde que o teu homem partiu deixando-te só, para enfrentares o resto dos dias. Sofreste, porque ele foi de surpresa, sem te dar tempo de despedida. Tombou de repente, quando ainda parecia estar capaz de defender-se das tuas pirraças ciumentas, das tuas desconsiderações perante a sua inabilidade, para te ajudar, como sempre fazia todas as sextas feiras. O teu dia de pôr ordem na casa. Ele não queria que te cansasses mesmo sabendo que tu, irritada, sempre encontravas defeitos. Só depois dele partir, perante nós, confessaste o quanto ele era querido pela sua vontade. Era esta também a sua forma de amor. Ele, homem de poucas palavras, mais de gestos, gostava de assim te dizer, seres única, mesmo com outros afazeres.
Ele partiu deixando-te um enorme silêncio, do qual jamais recuperaste. Ele deixara-te sem muro de queixas. Agora não tinhas a quem recorrer, para o teu desabafar das canseiras. Sobre os filhos, sobre a carestia da vida, sobre das dores que todos os dias te atormentavam e de que muito falavas. Dores que te pareciam alimentar a necessidade de viver, de tanto as contrariares, fazendo todas as tuas tarefas de mulher, mãe e avó.
A dor do teu homem que partiu, juntaste a do teu filho do meio. Partiu cedo demais e antes de ti. Choraste imenso quando soubeste do estado de saúde em que se encontrava. Acusavas de injustiça, esse Deus, que te não levava a ti, em vez dele. Era em casa dele, que pai e filho, se entendiam na sueca nos fins de dia domingueiros, e para os quais gostavas de levar o lanche para acompanhamento. Mais doloroso se tornava, porque os dois falavam-te de um espaço de vida, onde gozavas um pouco de descanso e alegria de conviver. Coisa rara.

A partida deles deixara-te vulnerável e nós, os filhos procuramos de algum modo, amenizar a sua ausência. Ainda hoje, me lembro das nossas pequenas passeatas, e a forma como tu exigias, quando a família saía em conjunto, ir no meu carro. Como tu adoravas, sair a almoçar fora, porque toda a tua vida sempre cozinhaste para família.
E como ficavas feliz por puderes tomar o teu chazinho. Saída sem chá, não era saída.

No final da vida foste uma doente difícil, após os teus fracos ossos cederem. Um dia uma perna, um outro o osso da bacia. Fatalidade que te foi tirando mobilidade e reduzindo à expressão mais simples. Passavas os dias sentada numa cadeira, ou deitada. Tinhas medo de te mexeres. Sofreste dores horríveis, enquanto teu corpo, sempre firme e activo se ia desaparecendo. Foste uma resistente e até à hora da morte. Não querias deixar-nos, em especial os que sabias, ainda precisarem de ti.

Este relato tão sucinto, não explica a totalidade da nossa vida em comum, é só um pequeno lembrete que surgiu, na data do teu aniversário em Dezembro. Não sendo uma mãe que criou os filhos com mimos, foste mãe, tão sempre, que ainda hoje fazes parte do presente.

Deixaste saudade.

domingo, 22 de janeiro de 2012

PALAVRAS NÃO ENCOTRARAM ECO...

As palavras partiram, mas não encontraram eco. Uma corrente gelada manteve-as imóveis por tempo indeterminado. Não foram lidas, escutadas, comentadas, nunca chegaram ao seu destino. O destino, estava fechado para obras e decidiu que não as lia, enquanto congeladas. Perdera-se o tempo e a oportunidade. Agora, mesmo depois de descongeladas, já não teriam sentido. As mãos que as escreveram, perderam a agilidade, a capacidade de as ordenar no espaço, seguindo a linha de pensamento que as originaram. Nem outras ele encontrava para as substituir. Não se tratavam as palavras como peças de substituição de uma máquina. As palavras que foram escritas num tempo certo com um objectivo claro. Tinham calor, paixão, e sentimentos vários, nem sempre claros, mas sentimentos. Tudo passara, agora só sobreviviam como esculturas de gelo.
Inconscientemente ao escrever ele pensara no destino que lhes queria dar, embora não soubesse, se seriam lidas, mesmo que não congeladas. Já estava habituado, a que muitas das palavras, que colocava nas folhas que escrevia, fossem deixadas a esmo, como mortas. Nem todos, têm tempo para ler as palavras que se escrevem, nem motivação para ler qualquer um que lhe aparece.
Afinal, as suas palavras não eram tão importantes como isso. Melhor seria colocar imagens, em vez das palavras. “Uma imagem vale por mil palavras”, ufa.. que bom, menos papel a gastar, e se a imagem for bem clara no seu conteúdo, fácil será entende-la. Ler cansa, é preciso interpretar as palavras, o sentido das frases, a subjectividade do autor. São tantas, tantas palavras, que as pessoas se aborrecem. Dá trabalho, e demora imenso a chegar ao fim do texto, para se tirar uma conclusão. Quando esta acontece. Perguntam-se, “ o que queria ele afinal?”.
Melhor é falar com música, imagens vistosas directas e poesias curtas com versos repetitivos, brancos, que não rimam e com palavras simples. Se não se entenderem sempre se pode fazer figura de intelectual tergiversando.

Temos pena, quem te manda escrever?

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Não vou para o lar


Perco-me na leitura, do livro. Digo para mim próprio. Isto é literatura. E leio e releio, sublinho frases, e espanto-me com o que leio. Interrogo-me como é possível, este não velho, falar dos velhos, dos lares de velhos, do pensar, do sentir, do viver dos velhos. Que recolhas fez? Que vivências encontrou, que lhe permitem tal capacidade de transformar em letra de forma tudo isso? Tanta coisa. Que nem eu próprio, que já estou nesse percurso, alguma vez seria capaz de enumerar?

Aprendi. Não sei se aprendi. Na verdade eu sempre pensei que quando chegasse a altura, optaria por ir para um lar de terceira idade. Não dar trabalho, nem ser peso para ninguém. Ao ler-te fiquei ensimesmado e decidi que não quero ir para lá. Só se não tiver espaço, para o amor, ou se meu amor morrer. Não quero ficar envelhecendo no fosso de um lar. Quero sair viajar. Ser indigente, dormindo nos passeios. Morrendo respirando o ar da cidade e das gentes. Não. Não quero o cheiro fétido da velhice que se encrosta nas paredes, nas roupas, nos espaços que nos rodeiam, nesses lares de meia tigela que me sobram. Prefiro comer uma isca, uma sopa rala, no tasco da esquina. E andar nas ruas e nos jardins públicos mesmo que os pássaros me caguem em cima. Não quero, ir para o quarto dos mortos. Não quero estar no meio dos que, morrem todos os dias. Não quero sentir, nem ver, “o tempo diante dos olhos a acabar-se cada dia”.*
Mesmo não querendo ir para um lar de "seniores", como pomposamente nos iludem, sugiro, que eles se construam longe de cemitérios, próximos de jardins, junto ao mar, com extensos areais, ou, em locais onde a natureza nos alimente o prazer de viver. Com direito a visitas guiadas pelo país. Um almoço fora uma vez por mês. E com muitos voluntários para nos lerem livros.

ASSIM seremos nós tratados.

“Sorriem, umas palmadinhas nas costas, devagar que é velhinho, e depois vão-se embora para casa a esquecerem as coisas mais aborrecidas dos dias. Onde ficamos nós, os velhinhos, uma gelatina de carne de amargar como para lá dos prazos”  Valter Hugo Mãe - A máquina de fazer espanhóis*


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Será preciso dizer mais????


Até para cair é preciso aprender

Não há necessidade de inventar, para pôr fim, ao que não queremos. Temos é que saber bem o que queremos e avançar. O cansaços, a falta de tempo, a vida, enfim… são palavras gastas, que já não disfarçam o que se sente efectivamente.
A vida de todos nós, em especial dos mais desfavorecidos, é dura e difícil com constantes retrocessos e avanços. Necessário é, ter força física e mental para superar todos as dificuldades que se nos deparam sem medo de perder. Perde-se mais quando não se arrisca. Perdemos de várias maneiras. A confiança em nós próprios, e o benefício que usufruiríamos por ter tentado. O permitir avaliarmos as nossas capacidades para enfrentar o êxito, ou o erro. Não ficarmos amarrados ao que temos.
Quantas vezes, em consciência, sabemos que o que fazemos deveria ser feito de outro modo, e acabamos por fazer errado com medo de magoar, de dizer a verdade, de sermos leais para com aqueles de quem somos amigos, maridos, pais, ou filhos.
Nem sempre dizer a verdade é fácil, e por vezes é necessário certa subtileza, para que ela não seja cruel, ou até cínica a forma como a expressamos, mas acima de tudo o importante é que ela seja dita. Manter a ambiguidade, com medo de dizer, ou perder o que se tem, transforma tudo numa monstruosa mentira que cada vez se vai avolumando e mais difícil de sarar.
Não raras vezes, os pais poupam os filhos, a enfrentarem as dificuldades económicas com que têm que lidar para sustentar a família; são muitas vezes excessivamente benévolos em relação aos horários a cumprir para com a família e seus valores; não lhes dão as tarefas essenciais da gestão de vida familiar, protegendo-os estupidamente, em vez de os ajudar a crescer.
Até para cair é preciso aprender. Esfolar os joelhos, sentir o chão duro das dificuldades, abre-nos a mente na procura de encontrar um antídoto para dor, ou o modo de evitar a queda violenta, aprendendo a cair e a sobreviver. Muitas vezes quando se diz a alguém que dar uma pistola de brincar a uma criança é incitá-la à violência, logo nos respondem, que eles têm de se habituar a ver e não se deve evitar. No entanto se dissermos que é necessário ensinar as crianças, ou jovens a serem disciplinados, respeitar a liberdade e os valores dos outros, a perceberem as dificuldades da vida, logo vem o espírito de protecção ao de cima, dizendo que eles têm muito tempo para aprender.
Hoje os jovens têm muito mais de tudo, que alguma vez seus pais tiveram e é necessário fazer-lhes sentir isso. Por respeito a nós próprios e por respeito para com eles preparando-os para um mundo difícil, corrupto, cheio de compadrios, onde o acesso ao trabalho, a uma carreira profissional, uma vida social, económica, cultural, no fim a uma vida com dignidade, exigem formação e valores humanos sólidos.
As emoções e a racionalidade têm de andar de mão dada, pesando as decisões e ajudando a encontrar as melhores soluções em cada momento.
Temos deixar de nos isolar, e nos deixarmos subverter pela propaganda, que nos fazem crer, de que na sociedade actual, existe uma democracia e que os direitos são todos iguais. Os direitos são de facto mais iguais para uns do que para outros, e se não nos cuidarmos vemos os nossos esforços de criar cidadãos de qualidade gorados.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"O ALGODÃO NÃO ENGANA" amarelos.. são sempre amarelos


Aí estão os “amarelos” da UGT. Criados no tempo do soarismo, para dividir os trabalhadores. Associaram-se sempre a todos os desmandos que os últimos governos têm usado, dando-lhes o aval. Por muitas maquilhagens que usem, colando-se por vezes a iniciativas da CGTP, não deixam de ser uns traidores dos interesses dos trabalhadores ao serviço do patronato e do poder do capital.
Aprovar qualquer das medidas de concertação social com o actual governo e patrões, na conjuntura actual, é uma traição sem nome. Toda a Europa se revolta, era preciso que o pais cobaia, Portugal, com a sua central de traição, desse uma ajudinha, para dar apoio às políticas, dos que em nome da crise, espoliam os bolsos dos que trabalham. 
O sindicalista da CGTP Arménio Carlos considerou, esta terça-feira, hoje que o acordo alcançado de madrugada entre o Governo e os parceiros sociais é um regresso ao "feudalismo" e vai fazer "aumentar a exploração, a desigualdade e a pobreza".

"Este acordo é um bom acordo para o grande patronato e um péssimo acordo para os trabalhadores porque é um documento que põe o Estado ao serviço das empresas, que visa fragilizar a segurança social, que aponta para uma redução do rendimento do trabalho e dos trabalhadores", disse Arménio Carlos, membro da comissão executiva da CGTP. “
http://www.destakes.com/redir/92e651dc3e3598cf3292fb524133c292

domingo, 15 de janeiro de 2012

A FENDA

Ambos viviam uma relação próxima. Sempre foram amigos coloridos. Desde tempos imemoriais, que se descobriram e foram importantes na construção de um mundo melhor. A intimidade era obrigatória e a dependência em termos práticos era bastante grande. Mais ela do que ele. Ele era um pouco, “Pau para toda a colher”. Na realidade, dizia ele, era a sua funcionalidade, daí prestar assistência, a múltiplas almas, das mais variadas aplicações. Era muito macho e o seu corpo excessivamente fálico variava de volume, tendo em conta as exigências a que tinha de ser submetido.
Não era um giglô, era sim um amigão capaz e disponível, para que nada lhes faltasse, e, para que elas próprias sentissem que a satisfação do seu ego seria posta no tope das exigências, fazendo-as felizes e úteis. Ao contrário dele, elas mais estáveis, podiam permanecer tempos infinitos no mesmo lugar, sem se preocuparem, nem com as relações exteriores a que ele se debutava, nem a sair do seu espaço. Embora por vezes o fizessem, por razões não propriamente pessoais, mas simplesmente para ajudar. E aí, ele voltava, e as satisfazia novamente com todo o seu potencial e vigor. Seria possivelmente, a única relação de amor funcional, jamais vista.

Ela não tinha um corpo especial, como todas as do seu género. O importante era estar de acordo com as intenções que ambos serviam, e para as quais se sentiam devidamente habilitados. Tinha carnes rijas, e não seria o seu uso, ou o passar dos anos, que a iriam debilitar. Ela era forjada de material de primeira não fosse o diabo tecê-las e na primeira arremetida, se deixar quebrar ou ceder. Mentalmente estava preparada para o tipo de amor que a sociedade escolhera para si. Orgulhosa da qualidade com que a mimaram, desde que nascera, sentia-se mais do que protegida para todas as intempéries.

A verdade é que aqui nesta relação comummente aceite, não havia nem ciúme, nem machismo, era amor puro e duro. Sem controlo de chegada, ou partida, nem desconfianças que abalassem a relação. Embora sem filhos para dar continuidade ao seu amor, sempre se entenderem e contribuíram para que o mundo fosse melhor e evoluísse.

Pode-se por isso pensar, que o amor, ou a forma como se ama, tem muitas nuances e nem sempre o que está estabelecido como regra serve, de igual modo, para o bem estar.


Sempre que comprar um a caixa de parafusos, pense sempre, na necessidade de comprar uma “Chave de parafusos” adequada à cabeça do parafuso, e à necessidade do que está indicado
para fenda para que não seja facilmente estragada e que cumpra a sua função.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

12 MITOS DO CAPITALISMO

Com a devida vénia do site, odiário.info e ao autor do artigo, publico o texto em anexo.

NÃO DEIXEM DE LER, POIS É MUITO ESCLARECEDOR


Guilherme Alves Coelho - 07.Jan.12

Um comentário amargo, e frequente após os períodos eleitorais, é o de que “cada povo tem o governo que merece”. Trata-se de uma crítica errónea, que pode levar ao conformismo e à inércia e castiga os menos culpados. Não existem maus povos. Existem povos iletrados, mal informados, enganados, manipulados, iludidos por máquinas de propaganda que os atemorizam e lhes condicionam o pensamento. Todos os povos merecem sempre governos melhores.

   A mentira e a manipulação são hoje armas de opressão e destruição maciça, tão eficazes e importantes como as armas de guerra tradicionais. Em muitas ocasiões são complementares destas. Tanto servem para ganhar eleições como para invadir e destruir países insubmissos.
   São muitos e variados os tipos e meios de manipulação em que a ideologia capitalista se foi alicerçando ao longo do tempo. Um dos tipos mais importantes são os mitos. Trata-se de um conjunto de falsas verdades, mera propaganda que, repetidas à exaustão, acriticamente, ao longo de gerações, se tornam verdades insofismáveis aos olhos de muitos. Foram criadas para apresentar o capitalismo de forma credível perante as massas e obter o seu apoio ou passividade. Os seus veículos mais importantes são a informação mediática, a educação escolar, as tradições familiares, a doutrina das igrejas, etc. (*)
   Apresentam-se neste texto, sucintamente, alguns dos mitos mais comuns da mitologia capitalista.


>| No capitalismo qualquer pessoa pode enriquecer à custa do seu trabalho.


Pretende-se fazer crer que o regime capitalista conduz automaticamente qualquer pessoa a ser rica desde que se esforce muito.
   O objectivo oculto é obter o apoio acrítico dos trabalhadores no sistema e a sua submissão, na esperança ilusória e culpabilizante em caso de fracasso, de um dia virem a ser também, patrões de sucesso.
   Na verdade, a probabilidade de sucesso no sistema capitalista para o cidadão comum é igual à de lhe sair a lotaria. O “sucesso capitalista” é, com raras excepções, fruto da manipulação e falta de escrúpulos dos que dispõem de mais poder e influência. As fortunas em geral derivam directamente de formas fraudulentas de actuação.
   Este mito de que o sucesso é fruto de uma mistura de trabalho afincado, alguma sorte, uma boa dose de fé e depende apenas da capacidade empreendedora e competitiva de cada um, é um dos mitos que tem levado mais gente a acreditar no sistema e a apoiá-lo.   
   Mas também, após as tentativas falhadas, a resignarem-se pelo aparente falhanço pessoal e a esconderem a sua credulidade na indiferença. Trata-se dos tão apregoados empreendedorismo e competitividade.

>| O capitalismo gera riqueza e bem-estar para todos


Pretende-se fazer crer que a fórmula capitalista de acumulação de riqueza por uma minoria dará lugar, mais tarde ou mais cedo, à redistribuição da mesma.
    O objectivo é permitir que os patrões acumulem indefinidamente sem serem questionados sobre a forma como o fizeram, nomeadamente sobre a exploração dos trabalhadores. Ao mesmo tempo mantêm nestes a esperança de mais tarde serem recompensados pelo seu esforço e dedicação.
    Na verdade, já Marx tinha concluído nos seus estudos que o objectivo final do capitalismo não é a distribuição da riqueza mas a sua acumulação e concentração. O agravamento das diferenças entre ricos e pobres nas últimas décadas, nomeadamente após o neo-liberalismo, provou isso claramente.
   Este mito foi um dos mais difundidos durante a fase de “bem-estar social” pós guerra, para superar os estados socialistas. Com a queda do émulo soviético, o capitalismo deixou também cair a máscara e perdeu credibilidade.


>| Estamos todos no mesmo barco.


Pretende-se fazer crer que não há classes na sociedade, pelo que as responsabilidades pelos fracassos e crises são igualmente atribuídas a todos e portanto pagas por todos.
   O objectivo é criar um complexo de culpa junto dos trabalhadores que permita aos capitalistas arrecadar os lucros enquanto distribui as despesas por todo o povo.
   Na verdade, o pequeno numero de multimilionários, porque detém o poder, é sempre auto-beneficiado em relação à imensa maioria do povo, quer em impostos, quer em tráfico de influências, quer na especulação financeira, quer em off-shores, quer na corrupção e nepotismo, etc. Esse núcleo, que constitui a classe dominante, pretende assim escamotear que é o único e exclusivo responsável para situação de penúria dos povos e que deve pagar por isso.
   Este é um dos mitos mais ideológicos do capitalismo ao negar a existência de classes.

>| Liberdade é igual a capitalismo.


Pretende-se fazer crer que a verdadeira liberdade só se atinge com o capitalismo, através da chamada auto-regulação proporcionada pelo mercado.
   O objectivo é tornar o capitalismo uma espécie de religião em que tudo se organiza em seu redor e assim afastar os povos das grandes decisões macro-económicas, indiscutíveis.  
   A liberdade de negociar sem peias seria o máximo da liberdade.
   Na verdade, sabe-se que as estratégias político económicas, muitas delas planeadas com grande antecipação, são quase sempre tomadas por um pequeno número de pessoas poderosas, à revelia dos povos e dos poderes instituídos, a quem ditam as suas orientações. Nessas reuniões, em cimeiras restritas e mesmo secretas, são definidas as grandes decisões financeiras e económicas conjunturais ou estratégicas de longo prazo.   
   Todas, ou quase todas essas resoluções, são fruto de negociações e acordos mais ou menos secretos entre os maiores empresas e multinacionais mundiais. O mercado é pois manipulado e não auto-regulado. A liberdade plena no capitalismo existe de facto, mas apenas para os ricos e poderosos.
   Este mito tem sido utilizado pelos dirigentes capitalistas para justificar, por exemplo, intervenções em outros países não submissos ao capitalismo, argumentando não haver neles liberdade, porque há regras.

>| Capitalismo igual a democracia.

 
Pretende-se fazer crer que apenas no capitalismo há democracia.
   O objectivo deste mito, que é complementar do anterior, é impedir a discussão de outros modelos de sociedade, afirmando não haver alternativas a esse modelo e todos os outros serem ditaduras. Trata-se mais uma vez da apropriação pelo capitalismo, falseando-lhes o sentido, de conceitos caros aos povos, tais como liberdade e democracia.
   Na realidade, estando a sociedade dividida em classes, a classe mais rica, embora seja ultra minoritária, domina sobre todas as outras. Trata-se da negação da democracia que, por definição, é o governo do povo, logo da maioria. Esta “democracia” não passa pois de uma ditadura disfarçada. As “reformas democráticas” não são mais que retrocessos, reacções ao progresso. Daí deriva o termo reaccionário, o que anda para trás.
   Tal como o anterior este mito também serve de pretexto para criticar e atacar os regimes de países não capitalistas.

>| Eleições igual a Democracia.

 

Pretende-se fazer crer que o acto eleitoral é o sinonimo da democracia e esta se esgota nele.
   O objectivo é denegrir ou diabolizar e impedir a discussão de outros sistemas politico-eleitorais em que os dirigentes são estabelecidos por formas diversas das eleições burguesas, como por exemplo pela idade, experiencia, aceitação popular, etc.
   Na verdade é no sistema capitalista, que tudo manipula e corrompe, que o voto é condicionado e as eleições são actos meramente formais. O simples facto da classe burguesa minoritária vencer sempre as eleições demonstra o seu carácter não representativo.
   O mito de que, onde há eleições há democracia, é um dos mais enraizados, mesmo em algumas forças de esquerda.

>| Partidos alternantes igual a alternativos.


Pretende-se fazer crer que os partidos burgueses que se alternam periodicamente no poder têm políticas alternativas.
   O objectivo deste mito é perpetuar o sistema dentro dos limites da classe dominante, alimentando o mito de que a democracia está reduzida ao acto eleitoral.
  Na verdade este aparente sistema pluri ou bi-partidário é um sistema mono-partidário. Duas ou mais facções da mesma organização política, partilhando políticas capitalistas idênticas e complementares, alternam-se no poder, simulando partidos independentes, com políticas alternativas. O que é dado escolher aos povos não é o sistema que é sempre o capitalismo, mas apenas os agentes partidários que estão de turno como seus guardiões e continuadores.
   O mito de que os partidos burgueses têm politicas independentes da classe dominante, chegando até a ser opostas, é um dos mais propagandeados e importantes para manter o sistema a funcionar.

>| O eleito representa o povo e por isso pode decidir tudo por ele.


Pretende-se fazer crer que o político, uma vez eleito, adquire plenos poderes e pode governar como quiser.
  O objectivo deste mito é iludir o povo com promessas vãs e escamotear as verdadeiras medidas que serão levadas à prática.
   Na verdade, uma vez no poder, o eleito auto-assume novos poderes. Não cumpre o que prometeu e, o que é ainda mais grave, põe em prática medidas não enunciadas antes, muitas vezes em sentido oposto e até inconstitucionais. Frequentemente são eleitos por minorias de votantes. A meio dos mandatos já atingiram índices de popularidade mínimos. Nestes casos de ausência ou perda progressiva de representatividade, o sistema não contempla quaisquer formas constitucionais de destituição. Esta perda de representatividade é uma das razões que impede as “democracias” capitalistas de serem verdadeiras democracias, tornando-se ditaduras disfarçadas.
  A prática sistemática deste processo de falsificação da democracia tornou este mito um dos mais desacreditados, sendo uma das causas principais da crescente abstenção eleitoral.


>| Não há alternativas à política capitalista.


Pretende-se fazer crer que o capitalismo, embora não sendo perfeito, é o único regime politico/económico possível e portanto o mais adequado.
   O objectivo é impedir que outros sistemas sejam conhecidos e comparados, usando todos os meios, incluindo a força, para afastar a competição.
   Na realidade existem outros sistemas politico económicos, sendo o mais conhecido o socialismo cientifico. Mesmo dentro do capitalismo há modalidades que vão desde o actual neo-liberalismo aos reformistas do “socialismo democrático” ou social-democrata.
   Este mito faz parte da tentativa de intimidação dos povos de impedir a discussão de alternativas ao capitalismo, a que se convencionou chamar o pensamento único.


>| A austeridade gera riqueza


Pretende-se fazer crer que a culpa das crises económicas é originada pelo excesso de regalias dos trabalhadores. Se estas forem retiradas, o Estado poupa e o país enriquece.
   O objectivo é fundamentalmente transferir para o sector publico, para o povo em geral e para os trabalhadores a responsabilidade do pagamento das dividas dos capitalistas. Fazer o povo aceitar a pilhagem dos seus bens na crença de que dias melhores virão mais tarde. Destina-se também a facilitar a privatização dos bens públicos, “emagrecendo” o Estado, logo “poupando”, sem referir que esses sectores eram os mais rentáveis do Estado, cujos lucros futuros se perdem desta forma.
   Na verdade, constata-se que estas politicas conduzem, ano após ano, a uma empobrecimento das receitas do Estado e a uma diminuição das regalias, direitos e do nível de vida dos povos, que antes estavam assegurados por elas.


>| Menos Estado, melhor Estado.


Pretende-se fazer crer que o sector privado administra melhor o Estado que o sector público.
   O objectivo dos capitalistas é, “dourar a pílula” para facilitar a apropriação do património, das funções e dos bens rentáveis dos estados. É complementar do anterior.
   Na verdade o que acontece em geral é o contrário: os serviços públicos privatizados não só se tornam piores, como as tributações e as prestações são agravadas. O balanço dos resultados dos serviços prestados após passarem a privados é quase sempre pior que o anterior. Na óptica capitalista a prestação de serviços públicos não passa de mera oportunidade de negócio. Neste mito é um dos mais “ideológicos” do capitalismo neoliberal. Nele está subjacente a filosofia de que quem deve governar são os privados e o Estado apenas dá apoio.


>| A actual crise é passageira e será resolvida para o bem dos povos.


Pretende-se fazer crer que a actual crise económico-financeira é mais uma crise cíclica habitual do capitalismo e não uma crise sistémica ou final.

O objectivo dos capitalistas, com destaque para os financeiros, é continuarem a pilhagem dos Estados e a exploração dos povos enquanto puderem. Tem servido ainda para alguns políticos se manterem no poder, alimentando a esperança junto dos povos de que melhores dias virão se continuarem a votar neles.
   Na verdade, tal como previu Marx, do que se trata é da crise final do sistema capitalista, com o crescente aumento da contradição entre o carácter social da produção e o lucro privado até se tornar insolúvel.
  Alguns, entre os quais os “socialistas” e sociais-democratas, que afirmam poder manter o capitalismo, embora de forma mitigada, afirmam que a crise deriva apenas de erros dos políticos, da ganância dos banqueiros e especuladores ou da falta de ideias dos dirigentes ou mecanismos que ainda falta resolver. No entanto, aquilo a que assistimos é ao agravamento permanente do nível de vida dos povos sem que esteja à vista qualquer esperança de melhoria. Dentro do sistema capitalista já nada mais há a esperar de bom.


Nota final:


O capitalismo há-de acabar, mas só por si tal decorrerá muito lentamente e com imensos sacrifícios dos povos. Terá que ser empurrado. Devem ser combatidas as ilusões, quer daqueles que julgam o capitalismo reformável, quer daqueles que acham que quanto pior melhor, para o capitalismo cairá de podre, O capitalismo tudo fará para vender cara a derrota. Por isso quanto mais rápido os povos se libertarem desse sistema injusto e cruel mais sacrifícios inúteis se poderão evitar.
   Hoje, mais do que nunca, é necessário criar barreiras ao assalto final da barbárie capitalista, e inverter a situação, quer apresentando claramente outras soluções politicas, quer combatendo o obscurantismo pelo esclarecimento, quer mobilizando e organizando os povos.

(*) Os mitos criados pelas religiões cristãs têm muito peso no pensamento único capitalista e são avidamente apropriados por ele para facilitar a aceitação do sistema pelos mais crédulos. Exemplos: “A pobreza é uma situação passageira da vida terrena”. “Sempre houve ricos e pobres”. “O rico será castigado no juízo final”. “Deve-se aguentar o sofrimento sem revolta para mais tarde ser recompensado.”

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A QUE DISTÂNCIA ESTÁS DO MEU MAR...

 
A que distância estás do meu mar, para que eu tema que te percas na ilha deserta onde te refugias.
O teu falar é mais pesado que o silêncio. Saem as frases divididas por paragens prolongadas. Escutas o vazio. Divagas, sem ênfase.
Em que lugar, geográfico de ti, sou presente e qual a dimensão?
Tornas-te um sonho difícil de alcançar, semeias distância, maior que o espaço entre as cidades, vais gelando o amor com o silêncio. Não há regras, sendo a regra não as haver. Oscilas, entre o nada e o coisa nenhuma, como se tivesses receio de evidenciar a tua verdadeira pele.
Não ter medo de perder, talvez, seja reflexo de nunca teres tido... tempo... vontade... amor...
Somos surpresa, para quem nos quer, por espanto de existir, pela diferença entre os comuns. No entanto a diferença pode ser fracasso, pode ser um presente, sem futuro, talvez.... sim talvez... necessária a serenidade...

Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!
faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Raul de Carvalho
 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

História de uma morte anunciada



Texto escrito a 31/12/11 - Matosinhos
Rui Huet Viana Jorge

                                    A MORTE DO EURO
Numa sexta-feira qualquer do ano de 2012, o Sr. Primeiro Ministro virá á hora do telejornal, anunciar a saída do euro.

A partir desse momento, estarão encerrados todos os bancos, e ATM(s). O Nosso 1º Ministro anunciará para os próximos dias o valor de conversão do euro em escudos; Ninguém julgue que vai receber 200$ por cada euro; o cambio será o que o governo e o Banco de Portugal entenderem mais favorável para pagar a dívida soberana.
Um número que me assalta, é 1€ = 100$. Vai ser mais fácil para os portugueses fazerem as contas, e 50% da dívida ficará logo saldada.
Passará a ser proibido atravessar a fronteira com euros. Possivelmente as fronteiras serão fechadas alguns dias para melhor controlo, muito embora os amiguinhos do costume (banqueiros governantes e seus próximos) sejam avisados com a devida antecedência.
O sistema financeiro será todo nacionalizado, para melhor controlo. A taxa de cambio entre euros e escudos, terá a responsabilidade política do governo, e a responsabilidade monetarista do Banco de Portugal. Como de costume a responsabilidade partilhada vai servir para acusações mútuas, e fuga ás responsabilidades.
Voltarão as quotas/tarifas ás importações.
O banco de Portugal passa a ter o poder de emitir moeda, jogando com a inflação e a desvalorização da moeda conforme as conveniências.
Depois do Banco de Portugal carimbar(marcar) todas as notas de euros, para poderem circular novamente, o que no mínimo demorará uns dias largos, embora possa ir libertando dinheiro marcado ao fim de 2 a 3 dias, todos os portugueses sentirão verdadeiramente o que se está a passar;
Façam as contas: ou ganham metade ou todos os produtos custam o dobro;
Em termos e economia caseira é igual.
Um pequeno exemplo: pegar no automóvel e atravessar a fronteira para ir a um simples almoço, passa a ser uma operação delicada a pedir orçamento prévio.
Quanto tempo iremos demorar a recuperar????
Se imaginarmos o país tal como ele é, se continuar a ser, teremos uma economia atrasada, débil, e seremos eternamente assim.....
Uma das saídas mais provável para a sobrevivência de muitos de nós, será a agricultura, que por falta de meios financeiros irá ser na maioria dos casos, uma agricultura de sobrevivência.
Possivelmente por isso é que o fado passou a ser património imaterial da humanidade.




 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

POR ESTE MUNDO ACIMA

“Por este mundo acima”, atirou-me do meu mundo abaixo. Tal e qual o Eduardo, também eu choro por tudo e por nada, e ao ler o livro, não raras vezes aconteceu.
Choro pelas muitas Sofias deste pais; por faltarem mais Eduardos no mundo presente; por haver poucas Patrícias e Sebastiões, mas muitos canastrões da literatura a vender “uma espécie de livros” e porque afinal, é preciso estarmos na eminência de desaparecer, ou de desaparecer este nosso mundo, para nos apercebermos quanto é importante dizer, eu amo-te, gosto de ti, adoro-te.

Li o livro e senti o vazio de uma cidade, de um mundo, sem que precisasse de uma descrição exaustiva, as palavras e os protagonistas colocaram-me lá.

Vivi intensamente um Eduardo, uma Sofia com um passado pesado e um Pedro, que nem sabe porque razão por vezes é mau, mas que se não encontrasse um “Eduardo”, talvez fosse vitima das circunstâncias.

É um livro de fé e confiança no ser humano, de que é possível de entre os escombros de uma sociedade, encontrar formas de vida, até por vezes mais solidária.

É assim que eu vejo o livro, certamente diferente de muitos outros e ainda bem, mas paciência eu sou como Eduardo, também as lágrimas por vezes me correm no rosto sem saber o por quê?

PRIVATIZE-SE A PUTA QUE OS PARIU


JOSÉ SARAMAGO, sempre atento produziu este texto que está mesmo, mas mesmo adequado, aos tempos que correm ...em especial em Portugal.

Privatize-se Manchu Picchu,
Privatize-se Chan Chan,
Privatize-se a Capela Sistina,
Privatize-se o Partenon,
Privatize-se o Nuno Gonçalves,
Privatize-se a Catedral de Chartres,
Privatize-se o "Descimento da Cruz" de António da Crestalcore,
Privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela,
Privatize-se a Cordilheira dos Andes, z
Privatize-se tudo,
Privatize-se o mar e o céu,
Privatize-se a água e o ar,
Privatize-se a justiça e a lei,
Privatize-se a nuvem que passa,
Privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos.
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
Privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvaçãodo mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.

[José Saramago - Cadernos de Lanzarote, Diário III, p. 148]

SURGINDO DA NOITE ESCURA

Surgira da noite escura, partilhando um espaço de vida, outrora morto, afagando seu ego, elevando a espiral do seu sorriso e deixando no ar um mar de sonhos e esperanças.
Todos os dias, são salpicados por histórias várias de apelo à resistência e à confiança, de que o caminho, embora difícil, não impedirá que cheguem ao objectivo. Não ficara claro se foram talhados um para outro, mas uma coisa é certa, se se encontram nesta etapa da vida, no cruzamento inóspito, das estradas percorridas ao longos dos anos, é porque teriam de fazer um percurso juntos, não sabiam quanto nem em que direcção, mas teria que acontecer.


Vivenciaram-se. Agora restam, trocando lágrimas de alegria, porque se sentem gratos, no chegar ao fim do dia.

sábado, 7 de janeiro de 2012

FUNERÁRIAS AO PODER

Quando estamos doentes as defesas físicas e mentais estão abaixo de zero. Sentimos que não somos ninguém, o nosso corpo não nos obedece. Tomamos os remédios recomendados, mas o mal demora a desaparecer e em alguns casos, não há solução. Por muito que os médicos, familiares e amigos dêem conselhos, ou nos animem, nada é suficiente.

Um simples gripe acompanhada de febre, deixa-nos como se fossemos moribundos, suados, mal cheirosos e a delirar. Ficamos sem apetite e dormimos como se não o fizéssemos, como se existisse uma cortina de ferro sobre os olhos, os ouvidos com sons de um exército a marchar e acompanhado do martelar das batidas do coração. São vinte quatro a quarenta oito horas de loucura, que mal sentimos melhoras quase nos apetece dançar de alegria.

Pior, pior é quando não é gripe, porque aí tudo se torna mais estranho e ficamos ensimesmados, no que poderá ser, ou não ser, e embora não tenhamos febre, as preocupações aumentam.

Em tudo isto, se formos mal acompanhados pelos médicos, ainda mais descaímos e a doença parece tomar conta de nós.

Muitas vezes a doença é acompanhada de solidão, ausência de amigos e família, aí então, sentimo-nos a maior merda do mundo. Somos derrotados pela doença e pelas condições psicológicas que acentuam todos os contornos que a envolvem.

Este retrato mal amanhado, do modo como muitos vivemos quando doentes, for vivido e sentido, dentro das novas medidas assumidas pelo governo, considerar-nos-emos, abaixo de zero ao quadrado e desesperados. Com medicamentos não comparticipados, taxas moderadoras mais elevadas, centros saúde fechados nos feriado, ou fim de semana, consultas externas com meses de atraso, cirurgias para o dia de “São Nunca”, que mais irá acontecer? Só podemos ficar mais doentes.

Aconselho o governo a promover as agências funerárias, dando-lhes condições de implementação rápida, se possível à porta dos hospitais, e com apoios financeiros, para que os utentes comecem cedo a pensar na partida para o outro lado, porque neste já os senhores do governo nos fizeram a folha.